O 4º Monumento da temporada é já amanhã! Remco Evenepoel não está cá para defender o título conquistado em 2023, mas temos outros grandes nomes como Tadej Pogacar ou Mathieu van der Poel, será que vamos ter outra surpresa como na Fleche Wallonne?

 

Percurso

Este é o quinto ano desde “novo final” da Liege-Bastogne-Liege e devo dizer que sou um saudosista do anterior final em Ans, com aquele falso plano que parecia interminável, a viragem à esquerda e o sprint até à meta, não acho que a alteração tenha sido para melhor e que proporcione melhor espectáculo. Em relação ao ano passado as únicas alterações são nos primeiros 90 quilómetros, depois da passagem por Bastogne são exactamente as mesmas estradas. Esta alteração diminui a quilometragem de 258 para 254 kms.

A verdadeira dureza começa com o Cote de Mont-le-Soie (2 kms a 5,5%), seguindo-se, num espaço de 25 quilómetros, o Cote de Wanne (3,7 kms a 4,7%), o Cote de Stockeu (1300 metros a 10,4%), o Col de la Haute-Levée (3 kms a 6,3%) e o Col du Rosier (4,5 kms a 5,7%).

Para os derradeiros 50 quilómetros ficam a faltar 5 subidas, as mais duras e onde tudo se deve decidir. O Côte de Desnié (1,6 kms a 7,4%) abre as hostilidades da parte final e, logo de seguida, há o famoso Cote de la Redoute (1600 metros a 8,7%), uma colina de 1600 metros a 4,2% em Cornemont e o Cote des Forges (1300 metros a 7,9%)




A entrada nos últimos 15 quilómetros faz-se com o Cote de la Roche-aux-Faucons (1300 metros a 10%) e, para terminar, existem 2100 metros a 4,5%, ficando a cerca de 10 quilómetros para a chegada. Segue-se uma longa descida até aos derradeiros 2 quilómetros totalmente planos A última curva fica a 600 metros da chegada antes de uma reta da meta em ligeira curva para a esquerda.

 

Tácticas

Das 3 clássicas das Ardenas a Liege-Bastogne-Liege é a mais importante, a mais dura, e a que oferece oportunidades a mais estilos de ciclistas. É onde os especialistas em clássicas lutam contra os voltistas, que tentam aproveitar as subidas ligeiramente mais longas e inclinadas para fazer diferenças. Há algumas formas de abordar e preparar este grande objectivo do ano, temos os que aparecem aqui um bocadinho de paraquedas e que já não competem há algum tempo (Pogacar, Yates, Bernal), há os que vêm do Tour of the Alps directos para aqui (Poels, Tiberi, Bardet, Zana) e os que estão a fazer as 3 clássicas das Ardenas. O “extra” por assim dizer é Mathieu van der Poel, que optou por descansar na Fleche e preparar esta corrida de uma forma um pouco mais específica. Quem fez a Fleche Wallonne este ano pode estar mais em desvantagem do que noutros anos, a corrida foi muito dura para o corpo dos ciclistas e pode haver quem não consiga recuperar a 100%

Como vimos na Fleche Wallonne, o clima pode ter uma importância muito específica aqui, neste momento não está prevista muita chuva, mas sim muito frio. Na noite de Sábado para Domingo pode inclusivamente nevar, as temperaturas vão rondar os 2º graus. Durante a corrida a estrada pode ainda estar algo escorregadia, há a possibilidade de pequenos aguaceiros ao longo do dia, mas a temperatura não deve subir dos 10º graus. Isto favorece quem for bem preparado, bem agasalhado, goste destas condições, costume estar bem colocado e tendencialmente os ciclistas mais magros vão sentir mais na pele estas condições.




A corrida será diferente das outras, creio que a presença de Mathieu van der Poel não é intimidatória, o neerlandês mostrou alguns sinais de falta de frescura na Amstel e este traçado julgo que está no limite para ele em termos de dureza, o foco estará todo em Tadej Pogacar e no que a UAE Team Emirates vai fazer. Acho que Pogacar vai pedir à equipa para levar a corrida controlada até à Cote de la Redoute, aí pode-se fazer grandes diferenças e como está a 35 kms do final um esforço a solo é possível, mas não acho que a UAE tenha vida fácil até lá.

Isto porque não gosto muito do alinhamento da UAE, quando se tem um ciclista com o gabarito de Tadej Pogacar, líder único, há que reunir uma tropa de bons gregários, experientes, conjuntamente com 1 alternativa caso aconteça algo ao esloveno. Partindo do princípio que Marc Hirschi é a alternativa a Pogacar, até porque é raro o suíço estar em tarefas de trabalho, há Finn Fisher-Black que é muito irregular, João Almeida que tem problemas de posicionamento o que nestas corridas é crucial, Domen Novak e Sjoerd Bax que não os vejo a estar presentes nos 50 kms finais e resta … Diego Ulissi. As outras equipas, as que têm mais alternativas, podem ver aqui uma janela de oportunidade para, de certa forma, isolar um pouco Pogacar e tentar antecipar o ataque do esloveno, falamos da Bahrain ou da Bora, provavelmente a EF também vai tentar. Uma grande incógnita na minha cabeça é a táctica da Alpecin caso Mathieu van der Poel tenha boas pernas e isso pode baralhar as contas.

 

Favoritos

Tadej Pogacar – Parte como o grande favorito e de uma forma justificada, no ano passado esteve nas 3 clássicas das Ardenas, ganhou as 2 primeiras e na Liege-Bastogne-Liege caiu e só recuperou mesmo a tempo do Tour. Já tinha estado presente em 2021 onde conseguiu ganhar. Como já se viu na Strade Bianche não precisa de muito ritmo de competição para fazer boas exibições, já deve estar em forma porque o Giro está aí à porta.

Santiago Buitrago – Gosto muito do colombiano e acho que para esta corrida muita coisa bate certo. Fez uma boa preparação e o 5º posto da Fleche Wallonne é um bom resultado, é um pequeno trepador com menos de 60 kgs, foi muito bom sobreviver às condições. É explosivo, já fez 3º nesta corrida em 2023 e não se importa de correr com chuva e frio. Está numa equipa com muitas opções e acho que vai tentar antecipar porque Tiberi dentro da Bahrain tem um sprint melhor e pode ficar mais resguardado, veremos se isso dá frutos.

 

Outsiders

Mattias Skjelmose – Saiu da Fleche Wallonne a tremer imenso, com sinais visíveis de hipotermia. O dinamarquês, apesar de habituado a este tempo, é muito magro e talvez não estivesse preparado para condições tão extremas. No entanto continua a mostrar muita confiança, diz que está a 100%, que recuperou totalmente, que está na forma da vida dele, tem de mostrar isso na estrada, numa corrida em que fez top 10 em 2023.




Thomas Pidcock – Acho que é dos poucos que, no topo da sua condição física, poderá seguir Tadej Pogacar quando o esloveno arrancar. O britânico fez uma belíssima corrida na Amstel Gold Race, quase perfeito tacticamente e em 2023 também maximizou o seu resultado ao ser 2º. Kwiatkowski, Bernal e Laurens de Plus são excelentes ajudas neste terreno e como já ganhou a Amstel correrá sem grande pressão.

Aleksandr Vlasov – Sempre achei que o russo tinha condições e perfil para andar bem numa corrida destas, ele claramente mostra fragilidades nas corridas longas e a Bora-Hansgrohe contratou voltistas, portanto talvez tenha preparado com mais afinco este momento. Realizou um belíssimo início de época, já foi 14º em 2022, o resultado engana, ele chegou integrado no selecto grupo que chegou atrás de Evenepoel.

 

Possíveis surpresas

Mathieu van der Poel – A única vez que esteve presente neste Monumento foi em 2020 e fez 6º. Foi o primeiro do grupo perseguidor, isso são sinais encorajadores para o que aí vem. Nessa época, atípica, ele estava a voar nesta altura do ano, vinha de um triunfo no BinckBank Tour e 2 semanas depois viria a averbar o Tour des Flandres, estou com receio que a exibição da Amstel em que não se mostrou já a 100% em termos de condição física, se repita aqui. Estas subidas são mais duras, acho que vamos ver um Mathieu van der Poel mais conservador do que o normal.

Kevin Vauquelin – O 2º lugar obtido na Fleche Wallonne é talvez o melhor da carreira e com um timing de aceleração diferente podia até ter ganho. Espero que o francês esteja a andar entre os melhores, um bom resultado é bem possível porque tem uma boa ponta final. Como está na Arkea e os pontos WT são muito importantes vai estar mais na defensiva, um pouco como Luca Mozzato fez no Tour des Flandres e esperar que a corrida venha até ele.

Wout Poels – Um dos antigos vencedores aqui presente, mostrou estar em boa forma no Tour of the Alps e vai procurar surpreender. Precisa de uma grande conjugação de factores porque não me parece explosivo o suficiente para se destacar nem para o sprint.

Antonio Tiberi – A tal opção mais conservadora de Bahrain que falei em cima, ao longo da prova italiana foi dos que andou sempre junto dos melhores e não teve qualquer problema com quedas. Num grupo reduzido é um ciclista perigoso.

Romain Bardet – Nesta fase da carreira já tem um foco muito maior nesta corridas de grande dimensão e o gaulês claramente gosta desta corrida, em 9 participações ficou por 7 vezes nos 20 primeiros. Sabe que tem de arriscar para petiscar.

Ben Healy – Disse que as clássicas das Ardenas eram o grande foco desta primeira parte da temporada. Na Amstel Gold Race dedicou-se ao trabalho para Marijn van den Berg, a Fleche Wallonne não correu bem e não é para as características dele, tem aqui uma última chance para mostrar que afinal está em boa forma. Foi 4º em 2023.

Tiesj Benoot – Teoricamente é a melhor opção da Visma e é um corredor que me parece em subida de forma, para além de gostar destas condições bem duras e frias. Benoot já foi 7º em 2023 e 2021, 8º em 2020, a formação neeelandesa tem mostrado confiança nele.



Romain Gregoire – Muita atenção ao jovem francês, 12º na Amstel Gold Race, 7º na Fleche Wallonne, vencedor de etapa na Volta ao País Basco, vencedor da Liege-Bastogne-Liege sub 23 em 2022. Cuidado principalmente se o deixam chegar num grupo reduzido, é um perigo.

Mauri Vansevenant – É quase certo que vai atacar de longe como na Amstel Gold Race e das 3 corridas esta é a que melhor se adapta às suas características. Imaginando que se tenta antecipar e passa o Cote de la Redoute na frente, isso pode ser bilhete para o pódio.

Marc Hirschi – A tal alternativa dentro da UAE Team Emirates que só tem hipóteses de resultar se a equipa adoptar uma estratégia parecida à da Alpecin nas clássicas do empedrado, enviar ciclistas satélite no ataque para bloquear movimentos e afinal haja é um bloqueio no pelotão.

Maxim van Gils – O pódio obtido na Fleche Wallonne voltou a mostrar que é um ciclista extremamente sólido a este nível, ele que já ano passado tinha feito top 11 nas 3 clássicas das Ardenas. Espero ver um Maxim van Gils bem posicionado, a andar com os melhores, mas não estou a ver cenários em que ganhe.

Dylan Teuns – Anda muito bem nas provas mais longas e exigentes, como se viu no Tour des Flandres e acho que à partida será o líder para esta corrida dentro da Israel, tem já 8 presenças neste Monumento, tendo sido 9º em 2019 e 6º em 2022.

Stephen Williams – Não acho que a vitória de Stephen Williams na Fleche Wallonne tenha sido um golpe de sorte, muito longe disso, mas duvido que aquelas circunstâncias se repitam. Para além disso esta é uma corrida bem mais dura, com características diferentes e a descarga emocional de um grande triunfo pode deixar o corpo vazio, mas também pode acontecer o contrário. A imagem que eu tenho de Williams é de alguém extremamente explosivo e os 4300 metros de acumulado acho que estão no limite para ele.

Tobias Johannessen – Frio e chuva são condições que o norueguês e toda a equipa da Uno-x adoram, vai aumentar as suas chances de um bom resultado. Ainda assim, não acho que esteja no seu melhor, senão teria feito um resultado ainda melhor numa Fleche Wallonne que no papel é perfeita para ele.

Jai Hindley – O australiano é bem mais versátil do que muitos pensam e este ano começou logo a andar bem para também marcar uma posição na hierarquia interna. Uma corrida, rápida, dura e selectiva é boa para ele, no entanto não tem grande experiência neste tipo de provas.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Alexey Lutsenko e Toms Skujins.

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