A aposta está definida. Tanto o seleccionador nacional de pista, Gabriel Mendes, como os ciclistas que representam a selecção nacional nas provas internacionais apontam os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 como o grande objectivo a curto/médio prazo. A vertente da pista em Portugal voltou a ganhar uma relevância acrescida com o novo velódromo em Anadia, realizam-se competições internacionais e cada vez mais ciclistas de estrada fazem preparação na pista e vice-versa.
O apuramento olímpico é difícil de explicar, a União Ciclista Internacional fez um bom trabalho a complicar os regulamentos, mas vamos tentar aqui fazê-lo de uma forma simplificada.
Quais são os eventos olímpicos na pista?
Nem todas as provas na pista fazem parte do programa olímpico, em Tóquio 2020 irão disputar-se 6 eventos em ambos os géneros (ao todo 12): sprint por equipas, sprint individual, Keirin, perseguição por equipas, Madison e Omnium. De fora ficou por exemplo a perseguição individual, onde Portugal conquistou várias medalhas em Europeus e Mundiais nos últimos anos.
Portugal está a tentar o apuramento em todas as provas olímpicas?
Não. Das 12 provas olímpicas ao todo Portugal está a tentar o apuramento em 3 delas. O Omnium feminino, o Omnium masculino e o Madison masculino, curiosamente aquelas competições que são talvez as menos “explosivas” de todas.
Como funciona o ranking de qualificação olímpico?
O ranking de qualificação olímpico decorre de 6 de Julho de 2018 a 1 de Março de 2020 e abrange todos os eventos, com um ranking específico para cada evento. É neste ranking que se vai basear o apuramento olímpico. Para o ranking contam o Mundial de 2019 e 2020, os 2 últimos campeonatos Continentais (no caso de Portugal o Europeu) e as 3 melhores Taças do Mundo de cada época (desde que 1 delas tenha sido disputada fora do Continente desse país), 6 ao todo. Para além destas provas entram para o ranking algumas corridas da categoria C1 e C2, mas isso é algo que não está bem especificado nos regulamentos da UCI.
Quantas provas que entram para o ranking faltam ainda disputar?
Falando de grandes competições (Mundiais, Europeus e Taças do Mundo) pois são essas que dão, de longe, mais pontos. Falta o Mundial de 2019, na Polónia e o Mundial de 2020 na Alemanha, o Europeu de 2019 e 7 provas da Taça do Mundo, a que teve início hoje, e as 6 da próxima época, que se vão realizar entre Novembro de 2019 e Janeiro de 2020. O ranking fecha com o Mundial de 2020.
Quantas vagas há para os Jogos Olímpicos na pista?
Ao todo são 189 vagas, mas falemos só dos eventos para os quais Portugal se está a tentar qualificar.
Para o Madison masculino há 16 vagas. 8 dessas vagas ficarão para os países que se qualifiquem para a perseguição por equipas (qualificação só através do ranking desse evento). As outras 8 vagas, as que Portugal ambiciona, ficam para os 8 melhores países do ranking olímpico do Madison que não se tenham apurado para a perseguição por equipas.
Para o Omnium masculino a lógica é a mesma. Existem 20 vagas disponíveis, 8 delas vão para as selecções que participaram no Madison via o ranking olímpico e as outras 12 vagas irão para os 12 melhores países do ranking olímpico de Omnium e que não se tenham apurado para o Madison pela via já referida.
No Omnium feminino Portugal tenta a qualificação somente pela via do ranking olímpico do Omnium, que apura os 13 países com melhores posição no ranking e que não se tenham apurado para o Madison através do ranking.
Quantos ciclistas pode Portugal levar aos Jogos Olímpicos na pista?
Realisticamente 4. Cada vaga no Omnium corresponde a 1 ciclista e cada vaga no Madison corresponde a 2 ciclistas. O máximo seria 4 ciclistas.
O apuramento olímpico está bem encaminhado?
Sem dúvida. O grande desafio é o apuramento para o Madison. Caso Portugal consiga o apuramento para o Madison é garantido que poderá levar 1 ciclista também ao Omnium. No ranking olímpico de Madison Portugal é neste momento 10º, atrás de Alemanha, Espanha, Bélgica, Dinamarca, Itália, Reino Unido, Austria, Polónia e Irlanda. Suiça e Bielorussia estão perto, mas depois há um grande fosso para o 13º lugar dos Estados Unidos da América.
Como Reino Unido, Itália, Alemanha e Dinamarca têm a qualificação para o Madison praticamente garantida fiz a quota da Perseguição colectiva, na prática Portugal é 6º no ranking de apuramento do Madison, e mesmo que Suiça e Bielorussia ultrapassem a selecção nacional, fica no 8º lugar, o que ainda dá o apuramento. Ou seja, bem encaminhado, mas ainda falta um longo caminho e é preciso manter o nível de resultados.
No ranking do Omnium Portugal é 17º, mas como já referimos, o maior foco está no Madison, já que uma presença no Madison garante a consequente presença no Omnium.
Por fim, quanto ao Omnium feminino, as prestações de Maria Martins têm permitido a Portugal subir imenso no ranking e já está no 30º posto. Aqui o apuramento está mais tremido, mas ainda é possível, sendo previsível que com a sua boa evolução Maria Martins consiga que Portugal suba mais no ranking, já que para participar em Europeus, Mundiais e Taças do Mundo também é necessário estar bem colocada na hierarquia e isso está agora mais perto de ser conseguido.
A participação de Portugal na última ronda da Taça do Mundo desta época em Hong Kong começará na próxima madrugada e a selecção nacional vai à procura de pontos e bons resultados. Rui Oliveira irá alinhar no Omnium e João Matias em Scratch. Maria Martins compete depois no Omnium no Domingo e terá a companhia nesse mesmo dia de Rui Oliveira e de João Matias no Madison.