Depois de montanha…mais montanha! Amanhã os ciclistas vão ter pela frente o mítico Mortirolo e com os 3 primeiros lugares presos por 30 segundos espera-se novamente muito espectáculo.
Percurso
Esta jornada tem um perfil montanhoso, como hoje, mas com algumas diferenças. Em primeiro lugar a distância, com apenas 155 quilómetros será um dia muito mais explosivo e que não se vai jogar tanto na resistência, em segundo lugar não há chegada em alto, talvez para tentar promover os ataques de longe.
Durante os primeiros 55 quilómetros não há contagens de montanha, mas o terreno é vantajoso para os trepadores entrarem numa fuga numerosa, há um falso plano constante, interrompido por algumas rampas mais duras que vai deixar mossa, os ciclistas passam dos 213 metros de altitude para os 954 metros, altura em que entram no Passo del Tonale (15,2 kms a 6,1%). Longa descida de 25 quilómetros e estão no Mortirolo, esta vertente apesar de bastante dura (12,7 kms a 7,6%), não é a mais complicada, ainda que venha uma parte com 2 kms a 9,8%, já bem perto do final.
A descida do Mortirolo são 14 kms vertiginosos e depois até ao final o terreno é parecido à fase inicial da etapa, terreno ondulado, com as ocasionais colinas bem duras, no caso 1900 metros a 7,5% a 21 kms da meta e 3,1 kms a 8% já dentro dos 10 quilómetros finais, que depois desta dificuldade são bem acessíveis, em plano ou descida.
Tácticas
A etapa de hoje veio revolucionar este Giro e principalmente a forma como vemos a corrida. Aparentemente a UAE tinha tudo sob controlo e de repente temos a prova em aberto com a quebra de Juan Ayuso e a perda de tempo de Isaac del Toro. A Visma e a EF acreditam agora mais do que nunca que é possível ganhar a Volta a Itália e temos ciclistas que, apesar de estarem atrasados, têm a crença de que podem fazer pódio por causa da dureza desta última semana, temos 16 ciclistas a menos de 9 minutos da camisola rosa no final da 16ª etapa, isso é raro numa Grande Volta. Em 2023 eram 15 corredores (13 na verdade visto que Armirail e Leknessund vinham de uma fuga), em 2022 eram 11 e em 2021 somente 9.
Existe o grande atractivo do líder ter neste momento a equipa mais forte da competição, Brandon McNulty, Rafal Majka e Adam Yates ainda dão algumas garantias a Isaac del Toro, no entanto basta o mexicano ter as pernas de hoje e não há equipa que o safe. Por outro lado, formações como Visma, EF, Israel e mesmo Red Bull Bora sabem que se abriu aqui uma porta preciosa e vão estar mais motivados do que nunca para fazer a diferença. Amanhã vai haver ataques no Mortirolo, têm de testar Isaac del Toro ao máximo, tanto a Ineos como a EF têm mostrado ambição ao longo da corrida e a estratégia também vai passar por colocar 1 ou 2 elementos na fuga visto que há muita distância entre o topo do Mortirolo e a meta.
Vai haver liberdade para alguns corredores mais longe da geral, viu-se hoje que a UAE não considera Storer e Poole perigosos, nem ainda Pellizzari, o foco está claramente em Carapaz e Yates. Creio que ciclistas do top 20 a ir para a fuga não é uma boa solução, a etapa é curta e rápida, mais vale esperarem um pouco pela situação após o Mortirolo, que tem potencial para ser boa para ataques fruto da marcação directa. A UAE vai querer controlar a corrida no sentido de quem vai ou não para a frente, por eles vão colocar o ritmo mais controlado possível e deixar outras formações fazer a diferença, ou pelo menos tentar.
Favoritos
Romain Bardet – Última Grande Volta da carreira e vai querer sair em grande, a deixar uma marca e uma imagem do seu ciclismo ofensivo. Hoje não conseguiu entrar na fuga, por um lado foi uma benção porque assim conseguiu poupar algumas energias e não foi ao limite. É um corredor que vive para estes grandes momentos e subidas como o Mortirolo.
Giulio Pellizzari – Com o abandono de Primoz Roglic tem carta verde e hoje mostrou do que é capaz, um trepador exímio que até deixou Richard Carapaz para trás na parte final, entrou no top 10 e é um real perigo para o pódio, neste momento não tem nada a perder. A Red Bull-Bora vai estar agora mais moralizada do que nunca, atenção que tem Tratnik, Aleotti e Martinez, é um bom trio para ajudar o transalpino.
Outsiders
Marco Frigo – Corredor que tem andado bem neste Giro e tem tradição de fugas aqui, já tentou sem sucesso por 2 vezes, venceu no Tour of the Alps e fez um bom contra-relógio. Pode ser lançado para a fuga na eventualmente de ajudar Derek Gee, no entanto se estiver na discussão da etapa não vai ser chamado de volta.
Michael Storer – Desperdiçou energias preciosas na penúltima subida quando a UAE ainda tinha força de perseguição, tem de ser um pouco mais contido na abordagem. Ainda assim não quebrou na subida final, deixou excelentes indicações e de lembrar o que fez no Tour of the Alps, cuidado que a Tudor tem Brenner, Voisard e Stork para ajudar Storer.
Wout Poels – Hoje teve quase um dia de folga dentro da empolgada Astana que viu uma dobradinha com Scaroni e Fortunato alegrar o Giro. O holandês já demonstrou nesta edição ter capacidade para subir com os melhores, simplesmente ainda não tivemos muitas fugas a resultar, é alguém que conhece o Mortirolo e espero ver uma Astana inconformada e ao ataque novamente.
Possíveis surpresas
Richard Carapaz – O equatoriano está há meses a falar em ganhar o Giro e hoje percebeu-se bem que preparou minuciosamente esta semana, já atacou por 2 vezes nos últimos dias e fez sempre estragos, isso deixa-o altamente moralizado para tentar novamente, mais agora que está tão perto da rosa. Simplesmente como o final não é assim tão duro pode ser prejudicado na luta pela etapa.
Simon Yates – Quando poucos esperavam eis que o britânico está novamente na luta por uma Grande Volta e dentro de uma Visma com algumas segundas linhas. Mesmo assim Lemmen, Kruijswijk e Kelderman não estão a andar mal, têm é de estar um patamar acima do que estiveram hoje, sendo que Wout van Aert ainda pode ser uma peça importante.
Isaac del Toro – Creio que a jornada de amanhã é mais favorável a Isaac del Toro do que a de hoje. O mexicano estava a ser claramente o melhor até hoje e acredito que não vá quebrar dramaticamente, amanhã há menos acumulado e as subidas em si são menos inclinadas, o que é melhor para as suas características.
Derek Gee – Poucos imaginariam que o canadiano, que fez uma aposta grande em melhorar na montanha, estaria neste momento a lutar pelo pódio do Giro, estando a um minuto do 3º lugar. Com os 3 primeiros lugares tão juntos pode haver uma marcação entre estes ciclistas e Derek Gee aproveitar as pendentes mais suaves para se destacar.
Max Poole – Tem uma índole ofensiva, mesmo sem grandes pernas tentou hoje seguir Storer na penúltima subida e depois pagou a factura. Estando ainda relativamente longe do top 10 pode ter liberdade para entrar na fuga e aí trabalhar com Bardet e Leemreize para ascender lugares na classificação geral.
Thymen Arensman – Costuma ter um excelente desempenho na 3ª semana, foi pena hoje ter perdido o contacto relativamente cedo, mas não desistiu e minimizou perdas, ainda está a uma distância alcançável do top 10 e a Ineos vai querer colocá-lo na fuga para depois poder ajudar Egan Bernal.
Chris Harper – Veio para lutar por um bom lugar na geral, esse objectivo já está obsoleto e nos últimos dias tem poupado algumas energias. A Jayco tem um bom conjunto de trepadores de modo a colocar 2 ou 3 ciclistas na fuga, nomes como Zana, Plapp ou Double podem ajudar Harper numa possível vitória.
Lorenzo Fortunato – Não ganhou hoje, mas demonstrou capacidade física, vamos ver como estão as pernas depois de tantos dias de fugas e ataques, agora com a classificação da montanha garantida dá-lhe outra leveza para tentar a vitória na etapa.
Thomas Pidcock – Uma caixinha de surpresas, tem tido um Giro extremamente discreto e abaixo das expectativas, sabe que tem de entrar na fuga para poder almejar o top 10 e veremos como encara a descida do Mortirolo.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Filippo Zana e Nairo Quintana