Está na hora da última grande etapa da Vuelta! Derradeira oportunidade para se fazerem diferenças na classificação geral. Quem irá arriscar?
Percurso
Uma etapa de loucos para terminar uma Vuelta que já em si não foi nada normal. 4300 metros de acumulado em quase 210 quilómetros e 10 contagens de montanha, todas de 3ª categoria. Uma fase decisiva da jornada será logo os primeiros 13 quilómetros, que são sempre em subida, quem começar mal o dia terá logo problemas aí.
Diria que outra parte muito importante será o encadeado de 3 contagens entre os quilômetros 124 e 147, porque vem a seguir a um vale, não tem grande descanso e segue-se outro vale até às 2 montanhas finais. O Puerto de la Cruz Verde vem a 27 kms da meta e tem 7,3 kms a 3,9%, nunca passa dos 6,5%, portanto não será palco de grandes diferenças.
Já o Alto San Lorenzo surge bem mais perto do fim, a 12 kms e apresenta 4,5 kms a 6,5%, o 2º e 3º quilómetro rondam os 8%, o que depois desta dureza e extensão vai certamente fazer mossa. Os 700 metros finais em Guadarrama são em ligeira subida.
Táticas
A situação na classificação geral é muito estranha, finalmente parece haver paz e uma decisão mais ou menos consensual na Jumbo-Visma, a Vuelta é para Sepp Kuss e não haverá mais ataques de Jonas Vingegaard e Primoz Roglic. Juan Ayuso, Enric Mas e Mikel Landa estão a cerca de 3 minutos do pódio, a grande questão é se vão arriscar de longe e, se sim, quão longe vão arriscar. Destes ciclistas o que menos propensão tem para isso é Enric Mas, para Mikel Landa é igual fazer 4º ou 6º e Juan Ayuso também.
São também dos corredores que na teoria mais armas têm para atacar a Jumbo-Visma, a UAE tem Fisher-Black, Soler e depois João Almeida, a Bahrain tem tido Tiberi, Caruso, Buitrago e especialmente Poels a andar muito bem. Uma possível aliada da Jumbo-Visma até poderá ser a Bora-Hansgrohe, numa defesa do top 10 da Uijtdebroeks e Vlasov, caso sejam atacados por Buitrago, Almeida e Cras. A classificação por pontos está resolvida, a montanha também, nas equipas a Jumbo-Visma já arrumou por completo a questão, tem mais de meia hora de avanço.
Creio que a chave da corrida está em Tratnik, van Baarle, Kelderman e Valter. Quem queira, potencialmente, atacar a Jumbo-Visma, tem de primeiro certificar-se que os 3 líderes ficam sozinhos para terem de fazer escolhas complicadas. E de preferência que isso aconteça o mais cedo possível. Numa situação dos 3 Jumbo num grupo de 10/15 a 50 kms da meta e os ataques começam a surgir, quem vai responder? Uma coisa é Vingegaard trabalhar e ajudar alguns quilómetros como fez ontem, outra coisa é estarem a ser atacados por todos os lados a dezenas de quilómetros do final. Vai o dinamarquês arriscar o pódio em prol de Kuss? Vai o relutante Roglic fazer o mesmo? Duvido muito, e já vimos que, pelo menos, os Jumbo-Visma não estão a fazer perseguições uns aos outros. Se por acaso sai um grupo com Ayuso, Landa, Vlasov e Vingegaard não vejo Roglic e Kuss a perseguirem.
Se a lógica imperar acho que UAE e Bahrain vão tentar tudo, mesmo tudo e nesse caso diria que apenas Poels, Evenepoel e Bardet de ciclistas de uma possível fuga terão hipóteses de sucesso pela capacidade física que têm demonstrado e pelo facto de se poderem poupar com a desculpa de não estarem a jogar pela geral, as subidas pouco inclinadas favorece muito quem vai na roda. UAE e Bahrain têm de colocar ciclistas satélite numa fuga (Novak, Tiberi) e guardar os trepadores para depois tentar partir o bloco da Jumbo, só assim podem sonhar com o pódio.
Favoritos
Depois de um dia de “descanso”, está na hora de Remco Evenepoel voltar ao ataque. O belga está muito forte e ainda motivado para continuar a lutar por vitórias. Já soma 3, mais que qualquer um nesta Vuelta, mesmo assim quer mais. Este terreno é perfeito para ele, a fazer lembrar as clássicas onde se dá tão bem.
Será desta que Wout Poels terá liberdade? A Bahrain-Victorious tem colocado sempre alguém em fuga mas o neerlandês tem sido sempre sacrificado para Mikel Landa. Numa forma extraordinária, Poels tem feito uma 3ª semana impressionante, com resultados interessantes, mesmo trabalhando. Gostava de subidas mais duras, mas a dureza acumulada joga a seu favor.
Outsiders
Após ter ganho logo a abrir, Andreas Kron continua em grande forma, destacando-se em etapas que, em teoria, são duras demais para si. A média montanha é perfeita para o dinamarquês que ainda mostra uma frescura física impressionante. Em grupos restritos é rápido.
Rui Costa tem estado bastante discreto desde que venceu, acreditamos que a guardar-se para o dia de amanhã. Muito cirúrgico, o antigo campeão do Mundo é uma “raposa velha”, sabe muito de ciclismo. Poucos ou mesmo ninguém quer estar numa fuga consigo, sabem do seu perigo.
Um ciclista que esteve na fuga do português e ainda está em forma é Lennard Kamna. O alemão voltou a focar-se em vencer etapas, já conta com uma e esteve em diversas fugas. É daqueles ciclistas que raramente falha e as subidas não muito inclinadas são ideais para si.
Possíveis surpresas
Será que voltaremos a ver Romain Bardet ao ataque? O francês tem estado mais discreto, mesmo em dias que se adaptavam muito bem. Um excelente ciclista de clássicas, deixará tudo na estrada. Acreditamos que a Bahrain-Victorious será uma das equipas mais ativas, para além de Poels, olho em Damiano Caruso e, principalmente, Antonio Tiberi. O italiano tem trabalhado muito em prol da equipa, poderá ser recompensado com uma oportunidade. Na Lotto-Dstny, olho, ainda em Lennert Van Eetvelt. Será que a UAE Team Emirates dará liberdade aos seus ciclistas? Caso isso aconteça, Finn Fisher-Black e Marc Soler são dois nomes a considerar, estão a andar muito bem. Romain Gregoire e Michael Storer serão as apostas da Groupama-FDJ, uma equipa que tem estado discreta nos últimos dias. A Soudal-QuickStep deverá apostar tudo em Evenepoel, mas não seria de descartar dar uma oportunidade a Louis Vervaeke ou Mattia Cattaneo. Entre os favoritos, os ataques não devem fazer efeitos práticos, acreditamos que um pequeno grupo possa chegar ao final onde, possivelmente possam discutir a vitória. Primoz Roglic é o homem da classificação geral mais rápido, podendo ter em Juan Ayuso o seu maior rival.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Pelayo Sanchez e Einer Rubio.