Segunda etapa de montanha consecutiva e mais um final em alto nesta La Vuelta! Teremos João Almeida novamente a testar os seus rivais ou veremos nova fuga a triunfar?
Percurso
A partida dá-se de Andorra-a-Velha, 10 quilómetros em descida até ao sopé da subida mais longa do dia, Port del Cantó (24,9 kms a 4,4% mas muito mais dura na prática já que tem várias fases de descanso). Seguem-se mais de 60 quilómetros mais acessíveis até ao início do Puerto de la Creu de Perves (5,7 kms a 6,3%) e, pouco depois, Coll de l’Espina (7,2 kms a 5,7%). Ultrapassadas estas subidas restam 46 quilómetros para o fim.
Será preciso esperar pelos últimos 12 100 metros, é aí que surge a derradeira dificuldade do dia, a ascensão final para Cerler. Huesca La Magia. Esta é uma subida feita em várias fases e, mesmo antes da contagem de montanha oficial, os ciclistas já vêm a subir à cerca de 20 quilómetros. Oficialmente, só depois do sprint intermédio é que começa a subida: 12,1 kms a 5,9% com os primeiros 4 kms até Celer a 8%, 1000 metros planos, depois 3 kms a 7,7%, 1000 metros de descida, 2 kms a 6,8% e o último km é praticamente feito num falso plano.
Táticas
Muito do que dissemos ontem, pode-se repetir hoje. Jonas Vingegaard perdeu a liderança, agora cabe à Bahrain-Victorious a tarefa de perseguir. É uma oportunidade única para Torstein Træen, vão defender a liderança mas não a todo o custo pois Antonio Tiberi é uma maior prioridade a longo prazo. Para isso será importante não deixar ciclistas perto dos primeiros lugares irem para a fuga, será a tarefa principal do dia.
Pelas equipas da geral, principalmente a Visma|Lease a Bike e UAE Team Emirates a fuga pode chegar, não vemos nenhuma delas a perseguir e mais depressa vemos a equipa árabe a colocar um ciclista em fuga, tal como fez hoje. O início pode ser duro mas são subidas “acessíveis” para estes ciclistas, e a subida final sendo feita em patamares não deve provocar grandes diferenças. Desta forma, damos, novamente, maior probabilidade de vitória à fuga.
Favoritos
Chris Harper até nem está muito longe na geral, mas com 6 minutos, já deve ter liberdade suficiente para estar na frente. O australiano é um ciclista que gosta destes dias duros, hoje não acabou muito atrasado, o que demonstra boa capacidade física. Já venceu no Giro deste ano, terá como objetivo também vencer na Vuelta. É um ciclista que gosta de atacar de longe.
Para quem não vinha para a geral, Giulio Ciccone está muito concentrado nisso. O italiano tem sido um dos mais fortes da Vuelta, sempre a tomar a iniciativa, o que demonstra muita capacidade física. Este é mais um final ao seu jeito, rampas duras e explosivas e um final mais acessível, ideal para a sua forte ponta final. Ciccone e a Lidl-Trek já merecem uma vitória.
Outsiders
Marco Frigo é alguém que se adapta muito bem a este tipo de etapas. Apesar de ser uma chegada em alto, não é uma montanha assim tão dura, o italiano gosta deste terreno mais ou menos rolante. Estando na fuga, não nos admirávamos que atacasse de longe, é uma das suas imagens de marca e é assim que gosta de correr.
Jonas Vingegaard voltou a mostrar ser um dos ciclistas mais fortes na Vuelta, respondendo prontamente aos ataques. Segundo dia de montanha, a dureza acumulada jogará a seu favor e, para além disso, conta com uma equipa muito forte para o apoiar até ao final. O ataque a surgir será na parte mais dura, a cerca de 5 kms do fim, veremos que o consegue seguir.
Agora é certo, João Almeida é o único líder da UAE Team Emirates. O português mostrou-se, pela primeria vez, hoje e com uma das tradicionais Almeidadas, antes de atacar. Esta está longe de ser uma subida ideal para as suas características, tem muito descanso, no entanto quando se está forte, tem de se aproveitar todas as oportunidades.
Possíveis surpresas
Egan Bernal – um dos poucos que conseguiu seguir os 3 ciclistas já referidos na etapa de hoje. O colombiano está-se a mostrar muito forte, é mais uma etapa dura que não lhe assenta assim tão bem, mas se tiver a oportunidade vai aproveitar.
Antonio Tiberi – está a ir de menos a mais, hoje já esteve muito melhor, este percurso é-lhe favorável, tal como o tempo mais ameno. Quando está confiante, o italiano é um ciclista perigoso.
Felix Gall – não está a acusar o cansaço do Tour, está-se a mostrar muito sólida. Uma etapa dura joga a seu favor mas uma subida feita em patamares já não. Será um dia para não perder tempo.
Matteo Jorgenson – entre jogadas táticas, o norte-americano pode vir a ser um ciclista importante. Hoje chegou na frente, a Visma ainda tem várias opções e, se existir muita marcação a Vingegaard, a oportunidade pode surgir.
Jay Vine – após uma exibição como a de hoje tem de ser considerado. O australiano foi o ciclista mais forte da fuga e, se juntarmos na equação os do pelotão também não andou longe disso. Pode ter a montanha como objetivo, amanhã é um dia importante.
Juan Ayuso – o enigmático espanhol pode passar de uma exibição péssima para um grande dia, não nos admirávamos nada. Não é um cenário muito provável mas hoje pode ter sido apenas um dia mau, Ayuso tem qualidade mais que suficiente para estar na fuga e vencer com clarividência.
Junior Lecerf – o jovem belga ainda está perto na geral, isso pode não jogar a seu favor mas tem de aproveitar o seu bom momento de forma. É um trepador competente, adora as rampas inclinadas que vão existir na subida final e é relativamente rápido.
Johannes Staune-Mittet – está a descobrir-se em Grandes Voltas. O norueguês é um enorme talento que tarda em confirmar o seu potencial, daqui a uns dias entra em terreno desconhecido, tem de aproveitar a frescura física.
Harold Tejada – a XDS Astana está apostada em vencer etapas, amanhã pode ser o dia do colombiano. Já foi mais ofensivo noutras temporadas, este ano tem sido mais pragmático, isso pode não ser favorável. Se o cenário de corrida o possibilitar, Tejada não vai desperdiçar, um ciclista explosivo.
Javier Romo – está a ter uma temporada de grande nível, vencer na Vuelta seria a cereja no topo do bolo. A Movistar está focada em vitórias, até pode colocar mais que um ciclista em fuga, resguardando Romo para a parte final.
Kevin Vermaerke – é a melhor opção da Picnic para amanhã. Trepador razoável mas, tal como já referimos com outros nomes, o facto da subida ser feita em patamares vem beneficiá-lo. Quererá deixar a sua equipa com um bom resultado.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Jefferson Cepeda e Abel Balderstone.