Aí está a primeira grande clássica belga, a Omloop Nieuwsblad! Com uma equipa com vários candidatos, a Team Visma | Lease a Bike vai tentar fazer o “poker”, no entanto a UAE Team Emirates de António Morgado e companhia vai tentar estragas os planos.
Percurso
O percurso da clássica belga mantém-se fiel à sua base, sofrendo apenas pequenas alterações. A corrida terá um total de 197 kms, 11 subidas e 11 setores de empedrado, por isso é de esperar uma prova bastante atacada e semelhante a edições anteriores.
Apesar dos 4 setores de empedrado e 3 subidas na primeira metade da corrida, a mesma só deve começar a animar a cerca de 65 quilómetros do fim. É aí que surge o Eikenberg (1200 metros a 5%), uma subida toda ela feita em empedrado. Numa rápida sequência segue-se a subida de Wolvenberg (600 metros a 7%), os setores de empedrado de Holleweg+Karel Martelstraat (2400 metros) e Jagerij (900 metros) e o Molenberg (500 metros a 6,6% e em paralelo). Pequena pausa até à combinação de Haaghoek (1900 metros) e Leberg (1000 metros a 3,5%), seguindo-se Berendries (900 metros a 6,7%) e Vossenhol-Elverenberg (!300 metros a 3,1%).
Para finalizar as dificuldades do percurso temos o mítico Kapelmuur (1200 metros a 7,2%) e o Bosberg (800 metros a 6,5%), que fica a 12 kms da meta. Um factor que pode ser importante e até mesmo decisivo é o espaço entre a 2ª e 3ª sequência, feita maioritariamente em estradas estreitas e sinuosas, o que pode dificultar perseguições organizadas.
Tácticas
Desde o triunfo em 2021, num sprint em pelotão reduzido, de Davide Ballerini, que a estrutura da Visma tem dominado a seu belo prazer a prova inaugural das clássicas do empedrado. Wout van Aert em 2022, Dylan van Baarle em 2023 e Jan Tratnik em 2024 foram os últimos vencedores, no entanto a formação neerlandesa não irá contar com Tratnik que saiu entretanto, com Van Baarle que está lesionado, nem com Laporte por opção. Isso abre muito a porta a um vencedor diferente, também porque Wout van Aert não parece ainda na melhor forma, continuando a ser um corredor que se adapta a muitos cenários.
Claramente o bloco mais forte, mais consistente e com mais opções parece o da UAE Team Emirates, dá a ideia que qualquer um dos 7 pode fazer top-5, o que também leva a questionar quais as tácticas e quem se vai sacrificar em prol de quem, acredito que pelo menos Bjerg e Herregodts sejam ciclistas de trabalho. É que passando as dificuldades há espaço para recuperação e muitos possíveis interessados numa chegada em pelotão reduzido, a Red Bull-Bora para Meeus, a Alpecin para Philipsen, mesmo a Quick-Step para Magnier e a Lotto para De Lie, nunca esquecendo a Arkea e a EF.
Portanto acho muito complicado que alguém sozinho aguente a perseguição até à meta e mesmo um grupo entre 3 a 5 elementos tem de ser constituído pelos corredores certos, a darem tudo de si e sem sprinters lá atrás. Sem Pogacar e Mathieu van der Poel, a corrida vai ser completamente diferente do “normal”.
Favoritos
António Morgado – Quem nos acompanha há mais tempo sabe que raramente somos parciais e “caseiros” nas antevisões, neste caso creio mesmo que o ciclista português tem boas hipóteses de alcançar um grande resultado porque está num excelente momento de forma. Ganhou isolado na Figueira, fez uma subida à Fóia surpreendente pela dureza que a etapa tinha, é alguém que não adora estas provas mas tem as características certas e depois de ter ganho experiência em 2024 espero vê-lo a andar com os melhores este ano. Tem uma boa ponta final em grupos reduzidos.
Paul Magnier – O jovem francês da Quick-Step é mesmo um fenómeno e muito cuidado com ele mesmo aos 20 anos neste tipo de corridas. Não estava à espera de o ver a passar as dificuldades na Figueira como o fez, é alguém que ainda não é muito marcado no pelotão internacional e a Quick-Step sabe que é a melhor hipótese de vencer. Muito cuidado que tem um sprint incrível no final de um dia bem duro, veja-se o que aconteceu na Figueira e na Bretagne Classic do ano passado.
Outsiders
Alberto Bettiol – Muito cuidado com a Astana que está a voar baixinho em 2025 e Alberto Bettiol conhece muito bem este tipo de provas, até já ganhou o Tour de Flandres. A formação cazaque tem sido muito mais pragmática este ano e é precisamente isso que o italiano precisa, já o vimos tomar muitas decisões tácticas difíceis de explicar, alguém que também sprinta bem em grupos reduzidos.
Jordi Meeus – Nos últimos anos é alguém que tem subido paulatinamente nos rankings tanto no sprint como nas clássicas e como se viu na Volta ao Algarve já está com uma boa condição física. Não estou a ver nenhum dos outros elementos da Red Bull-Bora a ter a explosão necessária para seguir os ataques quando a corrida partir, portanto a grande aposta poderá ser uma espécie de sprint em pelotão com Meeus.
Wout van Aert – 1º em 2022, 3º em 2024, historicamente é dos que tem melhores resultados aqui e no papel a sua temporada a sério começa aqui. É dos poucos que vejo a ganhar tanto no cenário de fuga como possivelmente num sprint em grupo reduzido, no entanto não fiquei totalmente convencido, pelo que vi no Algarve, que esteja em grande forma e neste tipo de provas isso paga-se caro.
Possíveis surpresas
Jasper Philipsen – Tem aqui uma bela oportunidade de liderar uma Alpecin com um bloco bastante forte e coeso numa corrida muito importante e a Omloop vai ser uma corrida muito importante porque sente-se que nos últimos meses o belga perdeu algum ímpeto e peso na hierarquia do ciclismo mundial. Tendo a concorrência de Merlier e Milan nos sprints, pode virar mais agulhas para as clássicas.
Jasper Stuyven – Um dos que conhece esta corrida como a palma das mãos, tem 9 participações, ganhou em 2020 e ao todo já fez top 10 por 6 vezes, a sua consistência aqui é incrível. Sem a presença de Mads Pedersen será claramente um dos líderes da Lidl-Trek e mesmo num sprint será ele a tentar o melhor resultado possível.
Matteo Trentin – Está na mesma categoria de Stuyven, não o vejo a ganhar a corrida, mas é uma das apostas mais sólidas para um top 10, algo que também já conseguiu aqui por 6 vezes. O veterano italiano costuma ser bastante inteligente a maximizar o seu resultado e a Tudor precisa dos pontos UCI.
Tim Wellens – Acho que vai ser um dos primeiros a abrir a corrida com ataques de longe, é uma estratégia arriscada, no entanto o belga só sabe correr dessa forma e por vezes as circunstâncias de corrida beneficiam-no.
Jhonatan Narvaez – Veremos qual é a real aposta do equatoriano neste tipo de corridas, ele demonstrou na Ineos a espaços que tem margem de progressão e muito potencial nas clássicas, com o conjunto de ciclistas que a UAE tem veremos que tipo de preparação fez porque precisa de continuar muito explosivo.
Arnaud de Lie – Não vou esconder, o sprinter belga da Lotto tem sido uma desilusão nos últimos tempos, não tem evoluído como esperado e depois continua envolvido em algumas polémicas fora da estrada, com declarações polémicas. Um bocadinho à imagem de Ewan, tem claras debilidades nos sprints em terreno plano, adora mais os finais empinados.
Thomas Pidcock – Grande início de temporada na Q36.5, que também confia nele para este tipo de corridas. Julgo que Pidcock vai ser sempre um nome a ter em conta, um ciclista marcado por tudo o que ele representa, mas não o estou a ver a isolar-se e aguentar uma perseguição até à meta ou a ganhar um sprint a 10/20. De relembrar que este tipo de provas dão muitos pontos e na dúvida a equipa vai querer que ele corra de um maneira conservadora.
Matteo Jorgenson – Faz a sua estreia em 2025, vamos ver se não vai pagar caro a falta de ritmo competitivo. Se estiver em boa condição física espero vê-lo entre os melhores nas colinas, a sua presença num grupo atacante pode descansar Wout van Aert e permitir que o belga salve alguma energia no grupo principal.
Mathias Vacek – Um ciclista que evoluiu de uma forma tremenda nos últimos meses e que vem aqui de certo modo testar-se neste tipo de corridas, não é o mais experiente neste terreno. No entanto, o checo está a andar muito bem, cheio de confiança e até é bom em grupos reduzidos.
Ben Turner – O britânico desde cedo mostrou potencial para as clássicas belgas e finalmente parece ter tido uma preparação sem problemas de maior para se apresentar aqui em boa forma. Deixou boas indicações neste mês de Fevereiro e deve estar entre os melhores.
Jonas Abrahamsen – Pelo que mostrou em 2024 o céu é o limite para o possante norueguês neste tipo de corridas, tem um motor que parece nunca mais acabar, a única forma de ganhar ou fazer pódio é arriscar e atacar desde muito longe endurecendo o ritmo.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Marijn van den Berg e Florian Vermeersch.