Biniam Girmay foi um raio de luz no meio de uma temporada relativamente modesta da equipa, onde foi visível uma vez mais que é das formações World Tour com menos argumentos. Só para se ter a noção da influência do eritreu, este ano somou cerca de 3300 pontos UCI e a equipa toda nem 10000 pontos fez.

 

Os dados

Vitórias: Não foram muitos, 13 ao todo, mas os 3 conquistados no Tour valem mais do que muitas vitórias em corridas menores em termos de pontos e visibilidade.

Pódios: Um total de 47 pódios, 16 dos quais conquistados pelo grande Biniam Girmay.

Dias de competição da equipa: 271 dias de corridas, temos que ver que a equipa faz um extenso calendário em França e na Bélgica.

Idade média do plantel: Mesmo com alguns super-veteranos a média foi de 28,1 anos em 2024

Mais kms: O veterano Louis Meintjes gosta muito de treinar em competição e melhorar a sua condição física com o passar dos dias, fez quase 13 000 kms.

Melhor vitória: Creio que aquela com mais significado foi a primeira de Girmay no Tour, aquela que fez história e desbloqueou também tudo o resto para o eritreu.



 

O mais

Claramente o grande destaque tem de ser o eritreu Biniam Girmay, globalmente fez uma temporada muito boa, creio que sem grande discussão podemos dizer que esteve entre os 10 melhores ciclistas do ano e finalmente atingiu o nível que muitos diziam poder obter. É verdade que em termos mediáticos o que conta mais são as 3 vitórias obtidas no Tour, que o levaram à conquista da camisola verde, mas é preciso ver que fora da Volta a França ainda somou cerca de 2000 pontos UCI, faz 2º no Quebec, 3º em Hamburgo, ganha o Circuito Franco-Belga e a Surf Coast Classic. Encontrou um nível de consistência e regularidade no posicionamento para os sprints que ainda nunca tinha conseguido.

Madis Mihkels, confusões à parte, deixou-me uma excelente impressão. Aos 21 anos, é medalhado de bronze nos Europeus de estrada, faz 4 top 10’s em etapa no Giro e ainda termina o Paris-Roubaix em 10º, tem tudo para ser um sucessor de Jan Kirsipuu. Laurenz Rex fez a sua melhor temporada de sempre, triunfou na Le Samyn, fez 6º na Clássica de Panne e ainda somou mais 4 top 10’s este ano. Vito Breat começou muito bem a temporada, depois perdeu algum gás, mas deixou a sensação de que pode adaptar-se muito bem a corridas como a Amstel Gold Race.

 

O menos

Estava à espera de um pouco mais por parte de alguns ciclistas, especialmente Lorenzo Rota, que tinha sido muito bom tanto em 2022 como em 2023. Em 2022 somou 1140 pontos, em 2023 980 pontos e este ano somente 610 pontos, mas acima de tudo o que mais me desiludiu foi ver um italiano letárgico, sem grande espírito de ataque, logo ele que é tão bom em sprints reduzidos. Tirando os Nacionais italianos não fez mais nenhum pódio. Rune Herregodts sai desta estrutura com aquele sentimento que poderia ter dado mais e que tem talento para melhor, tanto que de vez em quando os astros alinham-se e ele consegue uma surpreendente vitória, não passa mal a montanha, não tem uma má ponta final e não é mau contra-relogista, no entanto não é especialista em nada.



O nível de resultados de Arne Marit desceu substancialmente, mas aqui diria que existe a atenuante de ter Girmay e Thijssen na equipa, são 2 sprinters de outro nível e em certas alturas as oportunidades escasseiam. Kobe Goossens fez um início de 2023 fulgurante, depois uma lesão impediu-o de fazer o mesmo na segunda metade do ano, havia a expectativa de um início semelhante por parte do belga, algo que não aconteceu e não se viria a reencontrar durante a época quase toda.

 

O mercado

Uma equipa que tem um foco muito grande no sprint perder Madis Mihkels, Mike Teunissen, Rune Herregodts e Baptiste Planckaert não é um bom indicador. São ciclistas complicados de substituir, mas ao menos conseguiu segurar Biniam Girmay, o abono de família. Em termos de contratações foi um mercado clássico da Intermarche-Wanty, sem grande orçamento tentou ir buscar ciclistas talentosos e algo subaproveitados onde estavam, mas nenhum nome propriamente sonante.

O mais conhecido talvez seja Alexander Kamp, rolador experiente com 30 anos e que na Tudor esteve muito longe do seu melhor nível, pode ser encarado um pouco como substituição de Teunissen. Jonas Rutsch é muito combativo, um rolador poderoso um pouco à medida de Herregodts, nota-se um esforço para substituir por perfis semelhantes. Tenho curiosidade para ver o que vai fazer Louis Barré, com 24 anos ainda tem muita margem de progressão e tem alguns top 10 em corridas interessantes nos últimos 2 anos. Kamiel Bonneu é belga mas obteve alguns dos melhores resultados na Noruega, é um puncheur. Huub Artz é uma grande aposta a longe prazo, campeão europeu de estrada, tem as portas abertas quando Girmay não estiver, tem uma ponta de velocidade temível. Por fim, Luca van Boven parece talhado para as clássicas belgas.



O que esperar de 2025?

Claramente a Intermarche-Wanty aposta tudo nos sprints e nas clássicas. Não tem um trepador capaz de disputar ativamente top 10 em provas por etapas, quando vemos Meintjes, Zimmermann, Rota ou Barré, claramente, é somente na tentativa de ganhar etapas. Este é o ano em que jovens promovidos no ano passado e que estiveram a ganhar rodagem e experiência têm de aparecer, a formação belga tem uma boa vantagem face às rivais na luta pelo World Tour, mas uma má época de Girmay e de repente pode ver-se embrenhada nessa batalha. Nos jovens, falamos de Busatto, de Braet e de Faure-Prost, tem de ser essa a base e o intuito de uma estrutura com poucos recursos face às concorrentes. Acredito num lugar a rondar o 15º como este ano.

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