Com o final das Grandes Voltas e dos Campeonatos do Mundo, chegou a hora de fazer uma nova atualização e análise dos rankings do World Tour. A última grande análise feita pela nossa parte foi após o Giro d’Itália e desde aí muito se passou, com Tour, Vuelta, Campeonatos do Mundo. muitas clássicas e provas 2.Pro a serem importantes para diversas equipas.
Para os menos conhecedores, a UCI irá atribuir as licenças World Tour para o triénio 2023-2025 com o ranking do triénio 2020-2022 a ser um dos pilares para essa decisão. Os pontos obtidos pelos 10 melhores ciclistas de cada equipa em cada um dos 3 anos entram para o referido ranking. No total, serão atribuídas 18 licenças.
Este período foi muito positivo para a Movistar. A formação espanhola viu Enric Mas ser 2º na Vuelta a Espanha e somar uns impressionantes 844 pontos. Também os espanhóis Alex Aranburu, Gonzalo Serrano e Ivan Cortina subiram o nível somando, 404, 371 e 350 pontos respetivamente. Com tudo isto, Eusebio Unzue respirou fundo e muito mais tranquilamente, a sua equipa tem a manutenção na mão, após ter estado em apuros.
Desde Junho até agora, a grande derrotada foi a Israel-Premier Tech que, com um atraso de 1933 pontos para Cofidis e Arkea-Samsic vê a manutenção praticamente impossível, seria preciso um milagre. Nem a contratação de última hora de Dylan Teuns funcionou, o belga ainda não entrou no top-10 de ciclistas mais pontuados.
BikeExchange e EF Education tiveram um último mês muito positivo e têm mais de 1000 pontos de vantagem, pelo que a manutenção está num bom caminho. Cofidis continua consistente no calendário europeu, tal como a Arkea-Samsic que viu serem-lhe retirados os pontos obtidos por Nairo Quintana no Tour, caso contrário já não estaria nesta luta. A Lotto-Soudal continua a ir à luta, está a fazer de tudo mas a tarefa não está fácil, para as equipas francesas são 893 pontos de desvantagem.
Restam 3 semanas de competição e 8% dos pontos UCI ainda em disputa. Muitas equipas vão estender o calendário ao máximo, participando, inclusive nas provas asiáticas de final de ano.
Team BikeExchange-Jayco
Simon Yates voltou a ter muito azar ao ter que abandonar na Vuelta quando era 5º mas os comandados de Matthew White reagiram e têm somado muitos pontos no calendário europeu. Em provas por etapas, Kevin Colleoni apareceu na Volta a República Checa e Matteo Sobrero na Volta a Polónia. Michael Matthews está a ser o grande responsável pela manutenção, desde o Tour, onde venceu uma etapa já somou 938 pontos!
A formação australiana aproveitou, da melhor maneira possível, os pontos dados nos Campeonatos do Mundo. Michael Matthews conseguiu 467 pontos, Matteo Sobrero 99 e Luke Durbridge 67. Dylan Groenewegen tem feito maioritariamente clássicas europeias e, mesmo sem vitórias, conseguiu 438 pontos no último mês. O neerlandês vai continuar com este calendário, os pontos vão aparecer facilmente e Simon Yates vai focar-se nas clássicas italianas, onde será um dos principais candidatos. A manutenção está 99% garantida!
EF Education-EasyPost
Praticamente na mesma situação está a formação norte-americana. Pareciam em negação, mas acordaram a tempo. O Tour foi “assim assim”, a situação chegou a piorar mas os 280 pontos somados por Rigoberto Uran na Vuelta deram o click. Durante este período, no calendário europeu, Ruben Guerreiro foi 3º na Volta a Alemanha, 6º em Burgos e top-25 nas clássicas do Canadá (265 pontos), Magnus Cort apareceu a espaços e deu 220 pontos e Esteban Chaves 199 pontos.
Tal como a BikeExchange, esta foi outra equipa que ganhou muito com as prestações dos seus ciclistas nos Mundiais. Só Stefan Bissegger somou 225 pontos, com Alberto Bettiol a dar outros 150 pontos. Esteban Chaves, Rigoberto Uran, Alberto Bettiol e Ruben Guerreiro devem dar conta do recado no que resta da temporada, principalmente nas clássicas italianas.
Team Arkéa-Samsic
Como já referimos, a perda de pontos de Nairo Quinta foi fundamental para esta situação, são logo menos 400 pontos, contando só a geral. O ritmo de início de temporada não foi mantido, algo que já era expectável mas a regularidade continua lá, as restantes equipas é que também estão a render mais. Warren Barguil voltou a aparecer nas clássicas, conseguiu 245 pontos, mas foram outros 2 franceses a darem nas vistas.
Kevin Vauquelin continua a realizar uma temporada de estreia de sonho e nas últimas duas provas por etapas foi 2º, só desde Junho já deu 397 pontos. Matis Louvel é mais um corredor que está a dar o salto, também jovem, nas últimas 6 provas somou pontos em 5 delas (!), um total de 309. Hugo Hofstetter e Amuary Capiot continuam a somar top-10 atrás de top-10, regularidade é com estes dois sprinters, que devem continuar a render muito nas clássicas que faltam. Com Nacer Bouhanni lesionado e Quintana a tratar do seu caso com a justiça, terão que ser estes nomes a dar a promoção ao WT à equipa gaulesa. A vantagem é sólida mas não se podem descuidar, visto que, para já, não têm previsto a ida à Ásia.
Cofidis
Guillaume Martin continua a ser a base fundamental da equipa, a regularidade do francês é impressionante, desde Junho já somou 607 pontos, isto apesar de só ter 2 triunfos! Irá estar nas clássicas italianas e na Ásia, é preciso contar com ele para o top-10. Jesus Herrada somou 163 pontos no calendário espanhol (com ressalva para a vitória na Vuelta). Axel Zingle tem sido uma agradável surpresa, são 318 os pontos somados nos últimos meses por parte do jovem francês. Benjamin Thomas pode ter desiludido um pouco no Luxemburgo mas os 278 pontos somados no último mês revelam a sua consistência.
Nas clássicas, e considerando o facto de ter Max Walscheid, Simone Consonni, Piet Allegaert e Bryan Coquard no top 10, a estratégia da Cofidis tem sido sprintar com mais que um ciclista. Ainda ontem Consonni somou 125 pontos ao vencer a Paris-Chauny, a juntar aos 218 conseguidos desde Junho. Bryan Coquard tem 170 pontos, talvez se esperasse mais do pequeno francês o que já poderia ter garantido a manutenção. Com 10 competições no calendário, incluindo a ida à Ásia, será muito difícil ver a Cofidis descer, irá somar pontos em quase todas as provas.
Lotto Soudal
Arnaud de Lie continua a carregar a equipa belga às costas, só à sua conta são já 9 vitórias, 5 delas desde Junho. O calendário do jovem de 20 anos tem seguido um padrão, raramente faz provas por etapas, aproveitando o facto das clássicas darem muitos e importantes pontos e, com isso conseguiu, neste período, 1140 pontos, fabuloso para um neo-pro! Caleb Ewan esteve longe do melhor nas Grandes Voltas mas conseguiu 305 pontos nas últimas três provas. Poderia ter somado mais, se não tivesse adoecido.
Jasper de Buyst tem sido, maioritariamente, um lançador mas mesmo com um papel misto tem conseguido muitos pontos (329 no último mês e meio). Victor Campenaerts teve momentos brilhantes em Agosto que lhe valeram 279 pontos e Andreas Kron começou a aparecer nas recentes clássicas.
Não se avizinha uma tarefa nada fácil para a Lotto Soudal, mesmo considerando que os seus ciclistas continuem a pontuar muito, as diferenças já são grandes. De Lie e Ewan vão continuar a dividir calendários nas clássicas, de forma a maximizar os pontos. Vai ser preciso dar oportunidades a De Buyst e é esperar pela melhor versão de Campenaerts e quem sabe se Gilbert consegue uma gracinha no final de carreira. O lado positivo é que olhando só para o ranking de 2022, a Lotto Soudal está bastante bem colocada e, se descer de divisão, tem convites automáticos para todas as provas, ao nível do que tem acontecido com a Alpecin-Deceuninck.
Israel-Premier Tech
Um planeamento errático só poderia resultar nesta situação. Temporada completamente falhada e a licença World Tour para o próximo triénio está a ser vista por um canudo. Michael Woods, Jakob Fuglsang e Giacomo Nizzolo não têm correspondido às expectativas e, para piorar a situação, neste momento, nem os convites para as clássicas do próximo ano estão assegurados.
A temporada está a ser tão fraca que a TotalEnergies está à frente da equipa israelita no ranking de 2022 (979 pontos de diferença), pelo que, já não pensando na manutenção será importante continuar a somar pontos para tentarem assegurar estes wildcards. Até ao final da época estarão presentes em 14 provas, é preciso extrair o melhor de Fuglsang, Woods, Nizzolo e esperar que Dylan Teuns entre no top-10.