Mais de 40 vitórias e de 80 pódios numa temporada em que a Lidl-Trek conseguiu, a espaços, lutar contra os pesos-pesados do ciclismo mundial. Faltou, apenas, serem um pouco mais profícuos nas Grandes Voltas, e mesmo assim houve líderes a não corresponderem às expectativas.

 

Os dados

Vitórias: 42 triunfos, sim, leram bem, 42 vitórias ao longo de 2024, com 15 delas a acontecerem no World Tour.

Pódios: 84 lugares de pódio, é muito raro uma equipa ser tão eficaz visto que metade dos pódios foram vitórias.

Dias de competição da equipa: 244 dias de corrida, é daquelas estruturas que corre muito pouco, nã0 vai a muitas clássicas do circuito europeu e aproveita bem os recursos que tem.

Idade média do plantel: É das formações mais “velhas” do World Tour, com uma média de 30 anos. Curiosamente, os mais jovens são aqueles que mais responsabilidade de resultados têm.

Mais kms: Jasper Stuyven, um dos pêndulos da estrutura, fez quase 13 000 kms.

Melhor vitória: Elegemos o triunfo de Mads Pedersen na Gent-Wevelgem, onde bateu Mathieu van der Poel no mano-a-mano.

 

O mais

Jonathan Milan provou, realmente, em 2024 que tem potencial para ser o melhor sprinter do Mundo, para ser o verdadeiro sucessor de Marcel Kittel por todo o poderio que tem e pelo estilo de sprint. Terminou 2024 com 11 vitórias e mais 8 pódios fora isso, ganhou 3 etapas no Giro, picou o ponto em quase todas as provas por etapas e também muito importante foi a temporada de clássicas que fez, ficou a ideia de que pode ser um real perigo nesse tipo de provas. Nota ainda para Simone Consonni que foi incrível nos lançamentos para o seu compatriota ao longo do ano.




É verdade que Mads Pedersen não teve daquelas épocas vistosas, não ganhou nenhum Monumento nem em Grandes Voltas, mas sai de 2024 com 12 vitórias e um total de 20 pódios, é incrível a sua consistência e polivalência e de mencionar que ganha a Gent-Wevelgem, faz 4º na Milano-SanRemo e 3º no Paris-Roubaix. Toms Skujins parece estar melhor a cada ano que passa, o letão foi 4º nos Mundiais, 6º em Montreal, 5º nos Jogos Olímpicos, 10º no Tour des Flandres e 2º na Strade Bianche, clássicas longas e duras realmente é para ele, é alguém que fica melhor com o passar dos quilómetros e na Lidl-Trek é sempre uma alternativa fiável. O duo Mathias Vacek e Thibau Nys foi espectacular e promete fazer estragos ao longo dos próximos anos, o checo esteve muito bem nos Jogos Olímpicos, fez uma Vuelta incrível com 5 top 10’s em etapa e ainda foi fazer 2º no Paris-Tours, o belga dominou as chegadas durinhas na Volta a Polónia e foi ainda fazer 5º na Bretagne Classic.

 

O menos

Uma das grandes apostas da Lidl-Trek para 2024, e até parecia fazer muito sentido para ambas as partes, mas Tao Geoghegan Hart foi uma sombra do ciclista que vimos em 2020 e 2023. É verdade que consistência não é o nome do meio do britânico, mas mesmo assim terminou o ano sem qualquer top 5 e nunca deu sequer sinais de conseguir seguir os melhores, ele bem tentava a espaços, o motor rebentava com muita facilidade. Com uma pré-época sem problemas tem tudo para melhorar. Giulio Ciccone também não esteve particularmente bem, no entanto é preciso ver que o italiano só começou a competir no final de Abril. Fez um Tour a correr para a geral e terminou em 11º, passando um bocado despercebido, creio que a versão combativa dele é bastante melhor, depois também fez uma Vuelta fraquinha e salvou um pouco a imagem no Giro di Lombardia com um pódio.




Tinha grandes expectativas sobre Andrea Bagioli, que não foram cumpridas, longe disso. Considero que o italiano tem características e o potencial para ser um dos melhores ciclistas do Mundo nas Ardenas e nos finais explosivos, em 2023 até fez top 10 na Amstel Gold Race, em San Sebastian e 2º na Lombardia, portanto foi uma surpresa quando esteve claramente em subrendimento este ano. Por outro lado, pode ter sido uma época de adaptação, não é o primeiro e não será o último ciclista a baixar o nível de resultados quando sai da Soudal.

 

O mercado

Como em equipa que ganha não se mexe a Lidl-Trek quase não teve saídas e entradas neste mercado de transferências, deixam a equipa Dario Cataldo, Fabio Felline e Natnael Tesfatsion, entram Soren Kragh Andersen (que vai fortalecer ainda mais a equipa de clássicas), Lennard Kamna (para ajudar na montanha) e Tim Torn Teutenberg, jovem de 22 anos que em 2024 já correu várias vezes com a equipa sénior e que é um sprinter talentoso e possante, vencedor do Paris-Roubaix sub-23. A quarta e última contratação é de Albert Withen Philipsen, super talento dos juniores, campeão mundial de estrada e europeu de contra-relógio na categoria, pensa-se que o céu é o limite para o dinamarquês.

 

O que esperar de 2025?

A Lidl-Trek tem esta mistura peculiar de ter veteranos como gregários (Mollema, Theuns, Konrad, Skujins, Declercq, Stuyven, Verona), o que até faz sentido visto que são corredores que sabem que em princípio a melhor fase da carreira já passou, já não vão evoluir muito, portanto também lhes dá outra satisfação o sucesso dos mais jovens dentro da estrutura, que assim têm uma excelente base de apoio. Bagioli, Milan, Skjelmose, Simmons, Nys e Vacek têm todos 26 anos ou menos, estão ainda na curva ascendente, e a juntar a isto há Mads Pedersen, Ciccone e Hart entre os 28 e 30 anos.

Portanto, se tudo correr sem percalços, acho que a Lidl-Trek, com as escolhas certas, tem tudo para aumentar ainda mais o pecúlio de vitórias, ora vejamos. Jonathan Milan tem tudo para ser um dos 3 melhores sprinters do Mundo e tendo com ele Theuns, Kirsch, Stuyven e Consonni é meio caminho andado para o sucesso. Depois nas clássicas a este bloco super forte junta-se o temível Mads Pedersen, Kragh Andersen e talvez Simmons, têm tudo para ombrear com Alpecin, Visma e UAE aqui. Nas Grandes Voltas não creio que haja tanto potencial, continuo a achar que Skjelmose não é um voltista, talvez apenas a Vuelta se adapte às suas características, depois Ciccone é algo irregular e Hart precisa de recuperar as melhores sensações, ir ao Giro talvez fosse boa ideia. Eu acho que a Lidl-Trek devia fazer uma aposta séria nas provas de 1 semana e nas clássicas das Ardenas, têm talvez o melhor bloco para isso, com diversas alternativas, precisam de recuperar a melhor versão de Bagioli, Thibau Nys tem um potencial tremendo, Quinn Simmons adapta-se bem, tal como Mathias Vacek, Skjelmose tem tudo para ter sucesso aí e depois rodeados de ciclistas como Mollema ou Konrad, pode ser bem vencedor.

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