Ano após ano, a equipa britânica tem descido o nível dos resultados e 2024 não foi exceção. Algumas das grandes figuras estiveram relativamente discretas, poucos foram os ciclistas a evoluir e os resultados não apareceram tão facilmente. A próxima época também não será fácil, o mercado de transferências não foi positivo.
Os dados
Vitórias: 14 triunfos, o número mais baixo desde a criação do projeto britânico.
Pódios: 56 pódios em 2024, um número muito baixo, revelador da fraca temporada da equipa.
Dias de competição da equipa: 230 dias de competição, uma equipa que corre pouco fora o World Tour e o calendário ProSeries europeu.
Idade média do plantel: 28,5 anos, um plantel com muitos jovens abaixo dos 21 anos (5) mas com os 41 anos de Cameron Wurf a inflacionar.
Mais kms: o veterano Ben Swift foi o único a completar mais de 12 000 kms, terminando muito perto da barreira dos 12 500 kms.
Melhor vitória: Num ano de poucas memórias, tem de ser a vitória de Jhonatan Narvaez na 1ª etapa do Giro 2024, aguentando o ataque de Tadej Pogacar, derrotando o esloveno ao sprint, o que lhe valeu a camisola rosa.
O mais
Jhonatan Narvaez foi o ciclista que mais cresceu esta temporada. O equatoriano sagrou-se campeão nacional logo no início do ano e cavalgou para uma temporada impressionante, não só em clássicas como em provas de uma semana. 2º no Tour Down Under, 5º na Clássica Cadel Evans e na Clássica San Sebastian, 6º na E3 Saxo Classic e muitas fugas no Giro e na Vuelta, onde conseguiu sair com um triunfo em Itália. No meio de uma equipa desastrosa, foi encorajador ver Egan Bernal mostrar que, aos poucos, consegue realizar exibições perto do nível antes do acidente. Com exceção do Tour de France, um nível à parte e onde é preciso mais endurance que Bernal ainda não apresenta, o colombiano conseguiu terminar todas as provas por etapas que realizou no top-10, casos do Paris-Nice (7º), Volta a Catalunha (3º), Volta a Romandia (10º) e Volta a Suíça (4º).
Dizer que Geraint Thomas teve uma temporada positiva pode parecer estranho, no entanto temos que ver que o britânico já tem 38 anos e sempre foi um ciclista de grandes objetivos. Raramente rende fora das Grandes Voltas, mais uma vez voltou a acontecer, mas apareceu no momento da verdade para terminar o Giro d’Itália em 3º. Thymen Arensman foi mais um dos destaques do Giro, terminou em 6º, sendo que antes foi 5º no Algarve e 6º no Tirreno-Adriatico. Ainda precisa de ganhar consistência, algo que tem aparecido aos poucos.
O menos
Por onde começar nesta categoria? Carlos Rodriguez até foi o ciclista que mais pontos UCI deu à INEOS Grenadiers, venceu a Volta ao País Basco e foi 4º no Dauphine, no entanto isso já são resultados “normais” para o espanhol. Chegou o momento da verdade, fez o Tour e a Vuelta, terminou ambas no top-10, 7º e 10º respetivamente, mas piorou comparativamente com temporadas anteriores, onde prometia uma excelente evolução. Não foi mau, noutras equipas seria positivo, mas para a equipa britânica e para Rodriguez sabe a pouco.
Tom Pidcock também não andou mal de todo, venceu a Amstel Gold Race, terminou duas provas por etapas World Tour no top-10 e outras tantas clássicas mas para a qualidade e estatuto do britânico é pouco. A relação já não era a mais saudável, talvez isso já o estivesse a afetar, principalmente mentalmente, mas nem tudo pode servir de desculpa. Filippo Ganna termina o ano sem grandes títulos, apenas venceu dois contra-relógios (um deles o Nacional) e pouco mais se viu em 2024. Os Jogos Olímpicos podem ter tirado muito foco à estrada, só que noutros anos já conseguiu mostrar muito mais e prova disso é que vai deixar a Pista de lado na próxima época. Joshua Tarling foi outro contra-relogista que desiludiu, termina sem conseguir confirmar a sua evolução, 2024 foi um ano de estagnação, o espelho da equipa.
Ainda podemos referir nomes como Elia Viviani, Tobias Foss, Ethan Hayter e Michal Kwiatkowski só que há muito que já não mostram regularidade, aparecem a espaços e quando isso acontece acaba por ser surpreendente, já que ninguém está à espera de os ver na ribalta.
O mercado
A equipa britânica já não é o que era, não consegue segurar as suas grandes figuras, perdendo-as para equipas rivais. O caso mais gritante é Jhonatan Narvaez, quando o equatoriano se estava a afirmar sai para a UAE Team Emirates, perdendo-se, assim, o líder para as clássicas. A história de Tom Pidcock já é diferente, a relação estava desgastada e o fim antecipado do contrato acaba por ser algo mais natural. Ethan Hayter também sai depois de alguns problemas com a estrutura, numa equipa que também vê sair Elia Viviani, Luke Rowe, Cameron Wurf e Leo Hayter.
Se há uns anos dissessemos que este seria o mercado de transferências da INEOS Grenadiers estariamos todos em negação. Em nossa opinião, a grande contratação é Axel Laurance, o antigo campeão do Mundo sub-23 pode vir a ser um interessante reforço, passa bem a média montanha, boa ponta final, uma espécie de substituto para Narvaez/Hayter. Bob Jungels e Lucas Hamilton trazem experiência mas dificilmente irão trazer resultados, serão essencialmente gregários para as provas por etapas e clássiacs. O britânico Samuel Watson reforça o bloco de clássicas da Primavera, um ciclista explosivo. Victor Langelotti torna-se no primeiro monegasco no World Tour, uma contratação algo estranha por parte da INEOS, será mais um gregário para a montanha. Por fim, a aposta na juventude recai sobre Peter Oxenberg, jovem dinamarquês de 19 anos que tem uma boa ponta final após dias mais duros.
O que esperar de 2025?
Não será uma temporada nada fácil para a equipa agora liderada por John Maxwell Allert, finalizar a temporada perto do 8º lugar do ranking já seria positivo. Os sinais são claros, a INEOS já não é a mesma equipa de outros tempos, não tem o mesmo poderio, não consegue segurar os principais ciclistas e os resultados não aparecem. Carlos Rodriguez continua a ser a grande esperança para as Grandes Voltas, mas o próprio espanhol sabe que tem de evoluir mais se quer estar na discussão das mesmas, algo que este ano já conseguiu nas provas de uma semana. Thymen Arensman e Egan Bernal são as alternativas mais credíveis, mas longe de terem o nível atual para vencer. Geraint Thomas espreita uma última oportunidade de carreira.
Filippo Ganna e Joshua Tarling têm de voltar a exibir-se a bom nível, são dos melhores do mundo no contra-relógio e mesmo nas clássicas terão mais liberdade, fruto da falta de opções da equipa e das ambições que ambos já demonstraram. Magnus Sheffield e Ben Turner estão numa segunda linha, têm de aparecer mais nas provas por etapas de média montanha, a qualidade sabemos que a têm, só lhes falta mais regularidade. Sem tantas opções, terão um calendário mais focado. Por fim, e como já referimos, Axel Laurance pode ser uma grande contratação. Sem outro ciclista com as suas características no plantel, o francês será um corredor protegido, um sprinter/puncheur que a INEOS não tem e que poderá ser garantia de bons resultados.