Uma época como há muito tempo já não víamos por parte da estrutura belga. Terminaram com 25 vitórias e quase uma dezena de triunfos no World Tour, isto para uma equipa que recentemente passou por tantas dificuldades. É preciso realçar esta capacidade de reinvenção.

 

Os dados

Vitórias: 25 triunfos, 9 deles no World Tour, Arnaud de Lie foi o corredor mais profícuo com 6 sucessos.

Pódios: 59 pódios em 2024, isto são números de equipa top-5 mundial.

Dias de competição da equipa: 258 dias de competição, é daquelas equipas que fez um calendário muito variado.

Idade média do plantel: 27,5 anos, têm um plantel equilibrado entre super veteranos e uma boa quantidade de jovens.

Mais kms: Arjen Livyns fez 12 334 kms este ano, a equipa fez uma boa distribuição de competição entre os corredores.

Melhor vitória: Tem de ser o triunfo na 18ª etapa da Volta a França obtido por Victor Campenaerts, um excelente prémio para a equipa e para um ciclista muito combativo.

 

O mais

Arnaud de Lie continua a ser o grande abono de família desta Lotto-Dsnty. Falamos de um ciclista que termina a época com 7 vitórias e 15 pódios no total, é um dos maiores perigos do pelotão internacional, principalmente nas chegadas em pequenos topos, quando consegue uma boa colocação. Fez quase 2500 pontos UCI, mostrou que é preciso contar com ele nas clássicas do empedrado e acredito que a aposta em 2025 também passe por aí, ainda em 2024 fez 10º na Omloop. É o 3º ano consecutivo de Arnaud de Lie entre os 20 ciclistas do ranking com mais pontos e este nível de consistência também conta muito.

Foi a temporada de afirmação internacional de Maxim van Gils, é uma pena sair da equipa. 3º na Strade Bianche, 7º na Milano-Sanremo, 4º em Montreal, 3º na Fleche Wallonne e 4º na Liege-Bastogne-Liege, ganhou em Frankfurt e numa clássica suíça, numa altura em que há tão poucos puros especialistas em clássicas abre-se aqui uma janela de oportunidade interessante para van Gils continuar a destacar-se neste tipo de terreno. Lennert van Eetvelt continuou o seu caminho de evolução aos 23 anos, ganhou o UAE Tour e o Tour of Guangxi, fez 3º em San Sebastian, 7º na Lombardia (2 das corridas mais longas do calendário) e fez uma belíssima primeira semana de Vuelta. Jenno Berckmoes fez uma grande época e era um ciclista relativamente desconhecido, mesmo para quem acompanha regularmente a modalidade. Termina o ano com 2 vitórias, 8 pódios, quase 900 pontos UCI e uma regularidade digna de Milan Menten, quase que fez o papel do seu compatriota. Nota ainda para a boa evolução de Alec Segaert.

 

O menos

É incrível que mesmo numa época destas tenho havido alguns ciclistas em subrendimento, no entanto a maioria deles foi por problemas físicos, e aqui destaco especialmente Florian Vermeersch, um ciclista que no passado já lutou directamente pela vitória do Paris-Roubaix. O belga de 25 anos falhou as clássicas devido a uma lesão grave e só voltou em Junho, a segunda metade da temporada, sem ritmo competitivo, também foi algo pobre. Andreas Kron também iniciou a temporada bastante tarde, apenas em Março, e apesar de ter feito 42 dias de competição nunca se encontrou ao longo do ano, sai de 2024 apenas com 1 pódio e deixa o projeto da Lotto.

Dos corredores que não tiveram grandes problemas físicos o que desiludiu mais foi Milan Menten, que passou de 1000 pontos UCI em 2023 para apenas 400 pontos este ano e em termos de performance também nunca constituiu uma ameaça tão grande para os rivais, esteve mais longe dos pódios e dos triunfos. Jasper de Buyst esteve muitas vezes ao lado de Arnaud de Lie e Brent van Moer não evoluiu como esperava, teve até um ano bastante modesto, sem qualquer top 5.

 

O mercado

Acho óbvio que este defeso foi um dos piores possíveis para a Lotto-Dsnty pela importância dos ciclistas que perdeu e o “prego no caixão” foi esta recente transferência de Maxim van Gils para a Red Bull-Bora, quando o belga ainda tinha contrato com a equipa. Sai todo um núcleo duro de corredores que é quase insubstituível, principalmente tendo em conta que a aposta recaiu em jovens da formação. Thomas de Gendt e Victor Campenaerts eram presença quase garantida em fugas e sempre eram capitães na estrada, Jacopo Guarnieri era uma peça importante nos comboios para os sprints, Maxim van Gils é um dos jovens mais promissores do que toca a clássicas das Ardenas, Florian Vermeersch alguém que já fez pódios em Monumentos, Pascal Eenkhoorn podia fazer clássicas ou sprints, já Moniquet e Vanhoucke poderiam ser corredores importante para estarem junto de Eetvelt.

Relativamente aos reforços, Reuben Thompson é um trepador que enquanto sub-23 foi muito bom e que depois não conseguiu confirmar a sua valia na Groupama-FDJ, Lars Craps vem da equipa da Flandres também com as mesmas características, e depois forem recrutados 5 ciclistas de equipas de formação. De Schuyteneer é um sprinter muito jovem e uma grande aposta da equipa, já ganhou 1 etapa no Giro sub-23 e no Tour of Taihu Lake, já a representar a equipa principal na China. Orins é um corredor de clássicas, muito alto e possante, foi 2º no Paris-Roubaix e 3º na Liege-Bastogne-Liege sub-23, Giddings e Van de Wynkele são 2 puncheurs e Veistroffer vem da Decathlon-Ag2r de formação sem grandes resultados.

 

O que esperar de 2025?

Primeiramente, a equipa aposta num plantel mais reduzido, com 25 ciclistas, talvez pensando na possibilidade de completar um ou outro alinhamento com elementos da equipa sub-23. Arnaud de Lie será o líder indiscutível para os sprints e não só, com a saída de Versmeesch abre-se cada vez mais a porta também para as clássicas, e neste departamento creio que é a área mais forte da Lotto, com Berckmoes, Menten, de Buyst, e até Segaert, que pode começar a explorar essa vertente.

O outro eixo é liderado por Lennert van Eetvelt, para as clássicas e principalmente provas de 1 semana visto que a Lotto não tem capacidade nem estrutura para montar um conjunto para as Grandes Voltas coadjuvante à capacidade deste grande talento. Basta comparar Gregaard, Sepulveda e Van Moer face aos outros blocos e ver que Van Eetvelt deve ficar rapidamente sozinho. Ainda assim, eu levaria novamente o líder para as provas por etapas à Vuelta, é uma boa aprendizagem. De resto não sei bem o que esperar de Berckmoes porque depois da época que fez as expectativas estão altas, no entanto raramente o vimos correr nas provas que disputou. Jarne van de Paar e Schuyteneer são 2 corredores com uma ponta de velocidade incrível e nas clássicas belgas devem ter oportunidade de mostrar isso e depois é normal que haja mais 1 ou 2 ciclistas a surpreender, alguém como Robin Orins ou Lars Craps.

Para finalizar, volto a reafirmar que é uma pena que Maxim van Gils tenha saído, não só para a Lotto, como para o ciclismo internacional. Vivemos novos tempos em que estas transferências não só são uma realidade como também se estão a tornar um hábito e para as equipas com menos possibilidades, que fazem um enorme trabalho e têm muito mérito em confiar nestes jovens ciclistas, é bastante injusto. Isto tudo desequilibra a balança em favor dos que têm mais poderio financeiro e contribui para que ganhem mais vezes os mesmos e haja menos equilíbrio e variedade dos vencedores.

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