O Tour continua com uma jornada armadilhada, repleta de colinas e com um final que promete muita animação, teremos novo camisola amarela?
Percurso
Partida de Lauwin-Planque para a primeira “maratona” do Tour, a primeira etapa acima dos 200 quilómetros. Os primeiros 175 quilómetros não têm grandes dificuldades, apenas uma 4ª categoria mas o terreno bastante ondulante servirá para o desgaste dos ciclistas. 35 quilómetros para o fim e surge o Côte du Haut Pichot (1100 metros a 9,4%), uma subida que já deverá provocar alguns estragos. Será nos últimos 10 quilómetros que tudo se vai decidir, com Côte de Saint Etienne au Mont (100 metros a 10,6%) e o Côte d’Outreau (800 metros a 8,8%) a fazerem-se quase de seguida.
No topo ficam a restar apenas 5300 metros mas as dificuldades ainda não terminam uma vez que o final para a meta em Boulogne-sur-Mer também é em subida. São cerca de 1000 metros a 5%, depois de uma longa maratona vai fazer mossa nas pernas dos ciclistas.
Tácticas
O desfecho da jornada de hoje creio que terá bastante influência na forma de correr amanhã. O facto de muitos ciclistas terem já perdido algum tempo retira o sonho de envergar a camisola amarela e não há particular vontade da UAE e da Visma assumirem já esse desígnio. Dito isto, não creio que a fuga tenha muitas hipóteses porque vai haver na mesma muito nervosismo no pelotão, estradas estreitas e muita velocidade à mistura. Parece-me que a colina a cerca de 10 kms da meta é demasiado dura para a maioria dos sprinters, demais para Milan, Merlier, talvez Philipsen tendo em conta que o final depois ainda é em subida, podemos assistir a um duelo exclusivo entre trepadores e puncheurs, um grupo bem pequeno na meta. Estes esforços curtos e explosivos teoricamente beneficiam Pogacar e a UAE pode querer forçar o ritmo para ver como está Vingegaard, ainda que o dinamarquês tenha estado a responder bem neste terreno.
Hoje também terminou com a teoria de que UAE e Visma podiam batalhar num duelo de peões na montanha, Sivakov e os irmãos Yates perderam imenso tempo, a geral é entre Pogacar vs Vingegaard, com João Almeida e Matteo Jorgenson como alternativas e nesse campo o ciclista português saiu prejudicado hoje. Voltando mais à questão da etapa, julgo que há espaço para surpresas porque o final é duro demais para puros sprinters, fácil demais para haver grandes diferenças entre os homens da geral e pode haver o receio dos puncheurs levarem Pogacar para o risco de meta e oferecer o triunfo ao esloveno. Há terreno para ataques nos 10 kms finais, a questão é quem tem coragem e liberdade para arriscar. No campo dos sprinters que passam bem a montanha estou curioso para ver Philipsen, Girmay, Mayrhofer, van Aert e De Lie, sendo que os 2 últimos vêm de problemas de saúde.
Favoritos
Kevin Vauquelin – Ganhou a 2ª etapa do Tour em 2024 e quer repetir a façanha. É alguém que adora estas colinas inclinadas, foi já por 2 vezes 2º na Fleche Wallonne, está em grande forma tendo sido recentemente 2º na Volta a Suíça e 3º nos Nacionais de França. Hoje esteve muito atento e chegou no grupo principal, ainda não é visto como um perigo para a classificação geral, portanto tenho o feeling que amanhã o explosivo francês vai tentar a camisola amarela.
Mathieu van der Poel – Há aqui a hipótese de haver uma passagem de testemunho dentro da Alpecin-Deceuninck, Mathieu van der Poel é um ciclista dos grandes momentos e tem a chance de conquistar a camisola amarela. As etapas ao sprint são para Philipsen, as etapas de montanha duras demais para o astro neerlandês, restam este tipo de jornadas, com colinas e média montanha onde pode verdadeiramente fazer a diferença, parece em excelente forma.
Outsiders
Tadej Pogacar – O esloveno não vai desperdiçar uma oportunidade se ela aparecer. Caso tenhamos uma jornada parecida com a de hoje, uma média louca e uma corrida muito dura o final pode tornar-se destruidor e num grupo restrito acho que poucos ou nenhum trepador tem a ponta final do actual campeão do Mundo.
Oscar Onley – A DSM tem mostrado ao longo dos últimos anos a sua mestria em retirar o melhor que consegue de uma Grande Volta e o britânico Oscar Onley amanhã tem uma oportunidade de causar estragos. Vem de uma excelente Volta a Suíça onde vimos por várias vezes a sua explosão em subida e ainda não é encarado como um candidato ao top 5 final dentro do pelotão, pode aproveitar-se desse facto para escapar-se para a vitória.
Romain Gregoire – A grande esperança francesa em vários departamentos, para as clássicas das Ardenas nos próximos anos e particularmente para dar uma vitória à Groupama-FDJ no Tour em virtude da ausência de David Gaudu. A equipa acredita muito nele e no seu potencial, já venceu sprints em grupo reduzido este ano e hoje gostei de ver a estrutura gaulesa com 3 corredores no ultra competitivo grupo da frente.
Possíveis surpresas
Alex Aranburu – Um grande perigo neste tipo de terreno, vimos na Volta ao País Basco como se estiver em forma consegue subir com os melhores, depois tem uma excelente aceleração em subida, um bom sprint final e grande técnica de descida. Tipicamente um ciclista de clássicas ou de 1 semana, terá tendência a perder competitividade com o avançar do Tour.
Mattias Skjelmose – Está aqui somente para ganhar etapas e isso retira alguma pressão e responsabilidade. Com a queda hoje de Thibau Nys julgo que será a aposta da Lidl-Trek para amanhã lembrando que este ano já bateu Pogacar ao sprint na Amstel Gold Race.
Neilson Powless – A EF não está aqui a lutar pela geral nem tem propriamente um grande sprinter, isso dá chances a corredores como Powless, que este ano encontrou uma veia vencedora e um instinto matador que lhe tem feito obter alguns dos melhores resultados da carreira.
Primoz Roglic – Há 3/4 anos diria que era um dos candidatos com este final em subida, nas actuais circunstâncias ficará contente com um top 5 e em não perder tempo.
Santiago Buitrago – Hoje vimos o colombiano particularmente activo a perseguir e focado em não perder muito tempo, é porque está bem e com ideias para este Tour. Costuma andar bem nas Ardenas e é alguém que não tem medo de atacar.
Clement Champoussin – Perdeu muito tempo hoje nos cortes, é um corredor explosivo e que gosta destes finais durinhos, na Astana não tem ninguém para proteger da geral e pode fazer uma corrida relativamente egoísta neste campo, desligar-se mais cedo das etapas onde vê que não pode ganhar para poupar energias.
Thibau Nys – À partida era um dos meus candidatos para amanhã, tinha isso apontado desde que vi a lista de participantes, e a Lidl-Trek trouxe-o ao Tour com esse pensamento. O problema é que caiu hoje e pareceu bastante combalido, não estando a 100% não terá qualquer hipótese.
Wout van Aert – Falhou os campeonatos nacionais por problemas de saúde e creio que ainda não está no seu melhor, se esta tirada fosse um pouco mais para a frente seria perfeito para o belga, que por enquanto deve estar ao serviço de Jonas Vingegaard. Creio que terá mais oportunidades.
Jasper Philipsen – Julgo que as colinas são no limite para o belga da Alpecin, especialmente aquela com mais de 1 km acima dos 9%, tem hipóteses de vencer, mas precisa de uma colocação perfeita em todos os momentos para minimizar o desgaste acumulado.
Biniam Girmay – O eritreu sempre foi dos sprinters que melhor passou os topos, principalmente se forem subidas curtas, já vimos isso em várias ocasiões. Só que tal como Philipsen precisa de estar sempre bem posicionado para evitar recuperações e hoje viu-se que a Intermarche-Wanty tem poucos recursos nesse departamento, Girmay ficou sozinho no final.
Julian Alaphilippe – Um pouco à imagem de Lenny Martinez hoje mostrou grandes debilidades, não parece estar a 100%, o que é uma pena porque em condições normais poderia estar a disputar o triunfo
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Marius Mayrhofer e Joe Blackmore.