Ainda nem uma semana passou desde o fim do Tour e World Tour já está de regresso! Os ferverosos adeptos bascos voltam a receber o ciclismo, naquela que é a única clássica espanhola do World Tour.
Percurso
211 quilómetros com quase 4000 metros de acumulado, um percurso muito duro por terras bascas é o que os ciclistas vão ter pela frente no dia de amanhã. A primeira fase da corrida tem cerca de 140 kms, 2 subidas e aí o mais importante é poupar energia para o que aí vem, estas devem servir apenas para aquecer os motores dos ciclistas.
Já depois da primeira passagem pela meta, os ciclistas irão iniciar a parte mais dura da prova, com a subida a Jaizkebel, com 7,9 kms a 5,5%. É uma ascensão que engana muito porque tem 2 kms praticamente planos a baixar a média. Os primeiros 3 kms têm 7,5%, por exemplo. Segue-se a subida de Erlaitz, com os seus 10,6% durante 3900 metros, um momento decisivo na corrida, uma subida que anda sempre entre os 9% e os 12%. No topo ainda restam 33 quilómetros, no entanto é provável que a corrida já esteja lançada.
Descida muito rápida até San Sebastian, com os ciclistas a passarem mais uma vez na meta, antes de abordarem a derradeira subida do dia. Uma autêntica parede é o que está pela frente! Murgil Tontorra tem apenas 2000 metros mas são a uns temíveis 9,6% e se nos restringirmos ao miolo a média sobe para mais de 12,5% inclinação! Uma brutalidade que termina a escassos 8,5 quilómetros do topo. A descida prolonga-se até 3 quilómetros do fim, com a chegada a San Sebastian a ser totalmente plana.
Tácticas
Esta corrida está numa posição muito particular no calendário internacional, entre o Tour e a Vuelta, raramente é um objectivo muito específico dos ciclistas que tentam estender um pouco o pico de forma do Tour ou estão a vir de altitude para preparar a Vuelta. Em 2024, o pódio foi Hirschi, Alaphilippe e van Eetvelt, nenhum deles tinha feito o Tour, também nenhum deles é propriamente um voltista. Em 2023, tivemos Evenepoel, Bilbao e Vlasov, 3 corredores também adaptados às clássicas e dos 3 apenas Bilbao tinha feito a Volta a França, em 2022 Evenepoel venceu novamente, desta vez com Sivakov e Benoot com ele no pódio.
Creio que quem vem de fazer a Volta a França chega aqui com uma desvantagem considerável, este foi o Tour mais rápido da história e certamente deixou marcas no corpo dos ciclistas. Quem vem de altitude é uma incógnita, pode chegar fresco e com os efeitos dos treinos recentes ou vir com falta de ritmo competitivo. Olhando para os alinhamentos creio que meio mundo vai estar à espera do que vai fazer a UAE, tem excelentes gregários e algumas opções para vencer, mas já vimos várias vezes como a equipa por vezes lhe falta algum discernimento quando não tem Pogacar. E vejo essa situação a acontecer com Ayuso e Christen, 2 corredores que não parecem muito dispostos a deixar tudo na estrada pelos seus colegas. Os outros blocos não são incrivelmente fortes, mas creio que especialmente a Lidl-Trek pode tentar alguma coisa com a dupla Ciccone-Skjelmose.
Favoritos
Isaac del Toro – A equipa tem tido muito cuidado com o calendário do mexicano e acredito que este é um dos grandes objectivos desta segunda parte da época tendo em conta que não vai fazer a Vuelta. Mostrou muita facilidade e capacidade dentro do fraco pelotão da Volta a Áustria, depois ganhou uma clássica em Espanha, parece-me ter feito uma preparação perfeita para este momento, resta saber se as pernas vão corresponder. Por vezes os ciclistas notam melhorias grandes de rendimento depois de completarem a sua primeira Grande Volta.
Giulio Ciccone – Vem de altitude, tem treinado para a Vuelta com afinco em Andorra e os rumores apontam para estar a andar bastante bem. Não tem um grande historial aqui, 2 top 15 em 3 participações, no entanto é importante ver o contexto dos resultados e globalmente parece-me um excelente traçado para as características do italiano, que não só é um bom trepador como é explosivo o suficiente para estar com os melhores nas clássicas.
Outsiders
Juan Ayuso – Tudo parecia correr às mil maravilhas até que foi tudo por água abaixo no Giro. O espanhol recebe aqui uma segunda oportunidade por parte da equipa e lidera a UAE na Vuelta a par de João Almeida e vai querer desde já marcar uma posição no que toca à hierarquia da equipa. Se tiver o nível do início de temporada será um grande perigo nesta corrida, conhece muito bem estas estradas.
Maxim van Gils – A aposta mais arriscada desta categoria, confesso. O belga começou a temporada a voar e depois desapontou bastante nas clássicas das Ardenas, precisamente o terreno para o qual foi contratado para brilhar. Desde então está a preparar com afinco esta segunda metade da época e a meu ver não será um corredor muito marcado pelos rivais e é daqueles que mais potencial tem.
Neilson Powless – 1º em 2021, 4º em 2023 e 6º em 2024, nas 3 participações que fez nesta corrida, é um registo impressionante, talvez o melhor desta lista de participantes. O norte-americano parece adorar esta corrida e este ano já mostrou andar muito bem nas clássicas. Durante o Tour esteve ocasionalmente bem, sair com ritmo sem demasiado cansaço acumulado pode ser a chave para o sucesso.
Possíveis surpresas
Primoz Roglic – Uma adição de última hora e que surpreende pelo facto de não ter terminado o Tour propriamente em alta. Deve ter passado a informação à equipa que ainda estava em boas condições físicas, mas pode acusar alguma falta de frescura quando a corrida endurecer. Num grupo reduzido é um perigo a sprintar.
Pello Bilbao – Curiosamente das suas 7 participações apenas no ano passado foi bem sucedido ao terminar na 2ª posição, não tem um histórico assim tão bom aqui. Desiludiu bastante no Giro, fez uma Volta a Suíça razoável, não se sabe bem como chega a esta clássica, temos de questionar se os 35 anos não começam a pesar nas pernas de Bilbao, é que para estas provas começa-lhe a faltar aquela explosão.
Romain Gregoire – Tenho as minhas reservas relativamente a Gregoire no sentido do traçado ser talvez duro demais para ele. É um ciclista explosivo, especialista em clássicas e quando as subidas se prolongam parece ter mais dificuldades. Começou o Tour a andar com os melhores e no penúltimo dia ainda teve pernas para lutar pela vitória, creio que a condição física ainda pode estar lá.
Oscar Onley – Vem de um Tour excepcional onde foi a grande confirmação em termos de classificação geral, não terminou assim tão longe do pódio. Ao longo da corrida mostrou estar perto do nível de Vingegaard nas subidas mais curtas e explosivas, algo que vamos ter aqui. A grande questão é como se encontra o britânico depois de 3 semanas extenuantes onde teve stress diariamente.
Tobias Johannessen – Outro corredor que vem do Tour, aqui já tenho mais dúvidas sobre a sua condição física tendo em conta que terminou algumas etapas na última semana completamente de rastos. Nome a considerar para o top 10, a Uno-x continuar a acalentar a esperança de subir ao World Tour.
Tiesj Benoot – Fez top 10 em 2017, 2022 e 2023, fechando mesmo no 3º lugar em 2022, é um corredor que aparenta gostar bastante deste traçado e destas estradas. Na teoria talvez seja a melhor carta a ser jogada pela Visma, não impressionou assim tanto no Tour, mas esteve lá quando era preciso.
Giulio Pellizzari – Uma pequena incógnita o que vale neste tipo de clássicas, o trepador italiano vem de fazer 6º no Giro onde impressionou sempre que a estrada empinava um pouco mais e teve liberdade para tal, não tem medo de atacar e pode ser um diabo à solta.
Jan Christen – Já se viu que trabalhar para os colegas mesmo estando eles em melhor posição de vencer não é muito a característica do suíço. Quem sabe possa seguir com os primeiros ataques e ver-se numa boa posição para lutar pela vitória.
Simone Velasco – Está a ter a melhor temporada de sempre, vem de fazer 2 top 10’s em etapa no Tour, fez top 5 na Liege-Bastogne-Liege e tem manifestado uma regularidade que ainda não tínhamos visto. Muitas vezes chega um grupo relativamente grande na luta por lugares de honra e nesse cenário Velasco é um bom nome para top 5/top 10.
Aurelien Paret-Peintre – Bom trepador, bom sprinter em grupos reduzidos. Quando olho para o seu nome na lista de participantes considero-o um forte candidato ao top 10.
Antonio Tiberi – Falhou por completo o objectivo no Giro, veremos se conseguiu recuperar mentalmente e fisicamente dessa desilusão. Normalmente é um corredor que não dá nas vistas nas clássicas.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são Frank van den Broek e Nicolas Prodhomme.