Já estamos numa fase um pouco mais morna do mercado de transferências, já há algumas equipas com o plantel para 2023 completamente encerrado a menos que haja algumas surpresas, nomeadamente a envolver desvinculações repentinas pela situação da despromoção de 2 formações para ProTeams. Ao longo dos últimos dias foram anunciadas algumas mudanças, sendo que metade das que vamos falar aqui hoje envolvem precisamente a Arkea-Samsic, uma equipa que rescindiu com Nairo Quintana, abriu espaço para alguns reforços e vai subir ao World Tour para o triénio 2023-2025.
O espanhol Cristian Rodriguez é aposta declarada para a montanha, fazendo a mudança da TotalEnergies para a Arkea-Samsic. O trepador do país vizinho foi contratado pela equipa de Jean Rene Bernaudeau após um 2020 muito consistente, que acabou com o 9º posto na Volta a Portugal. Dentro da TotalEnergies foi uma agradável surpresa e é incrível como sendo tão discreto é extremamente eficaz e é capaz de somar algumas centenas de pontos. Em 2021 venceu o Tour of Rwanda e foi 4º na Route d’Occitanie, esta época foi 2º na Volta a Andaluzia, ganhou a montanha na Volta ao País Basco e fez novamente top 10 na Route d’Occitanie e na clássica do Mont Ventoux. Com a saída de Quintana terá mais espaço e com o calendário que a Arkea-Samsic faz tem tudo para ser uma presença constante no top-5/top-10 de provas com muita montanha no calendário europeu. Ainda tem margem de evolução aos 27 anos.
Por outro lado, a aposta recaiu também em corredores possantes, primeiramente no gigante David Dekker, de apenas 24 anos e que é filho de Erik Dekker. O holandês, antigo campeão nacional de sub-23, chamou a atenção da Jumbo-Visma, que o recrutou à Seg Racing em 2021. Começou a todo o gás, ombreou com os melhores sprinters do Mundo no UAE Tour onde obteve 2 pódios e a partir daí…praticamente nunca mais foi visto. Desde então nunca mais subiu a um pódio, sendo que em 2022 foi prejudicado internamente pela ascensão meteórica de Olav Kooij, sendo que nunca foi um elemento fundamental na Jumbo-Visma. 2023 será uma época absolutamente decisiva para a carreira de Dekker, ou aparece o Dekker do UAE Tour ou corre o risco de ficar com um calendário menos bom e relegado para lançador dentro de uma estrutura que tem Bouhanni, Hofstetter e McLay. Para a equipa francesa é um pouco um tiro no escuro numa jovem promessa que se tarda em confirmar.
De saída da Israel-Premier Tech para ingressar na Arkea-Samsic está o belga Jenthe Biermans. O corredor de 26 anos já está nesta estrutura desde 2017, lembrando que houve uma espécie de fusão com a Katusha. Ao longo das camadas jovens as expectativas sobre Biermans eram elevadíssimas, foi campeão nacional e vencedor do Tour des Flandres em juniores, vice-campeão nacional e 2º na Paris-Roubaix em sub-23 por 2 vezes (perdeu para Filippo Ganna). O belga é essencialmente muito inconsistente nas suas exibições e esteve sempre um pouco tapado por sprinters de topo ou por classicómanos de topo, sendo que o foco natural dele será precisamente nas clássicas, onde já foi 5º na Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Vai ser potencialmente alguém útil, capaz de somar alguns pontos e capaz de ajudar no longo calendário que a Arkea fará, entrará dentro de um bloco de clássicas com Hofstetter, Capiot, Dekker e Louvel. Tanto no caso de Dekker como no caso de Biermans a equipa gaulesa claramente procura explorar e despertar resultados em ciclistas que não estão a confirmar os resultados das camadas jovens, é uma estratégia arriscada e que provavelmente não aconteceria em ano de subidas/descidas.
Após a perda de Ruben Guerreiro, a EF Education-EasyPost movimentou-se no mercado. Mikkel Honoré foi a escolha e o ciclista dinamarquês assina por duas temporadas, isto depois de se desvincular da Quick-Step, equipa pela qual ainda tinha mais um ano de contrato. Acreditamos que Honoré seja o substituto de um ciclista da equipa norte-americana mas não de Ruben Guerreiro. A recuperar de uma grave lesão, Michael Valgren irá começar a época na equipa de desenvolvimento, pelo que Jonathan Vaughters teve que encontrar um corredor capaz de substituir o dinamarquês, pelo menos enquanto este não esteja totalmente recuperado. Aos 25 anos, Honoré irá entrar numa fase importante da carreira, ele que este ano não correspondeu às expectativas, depois de um 2021 onde venceu etapas na Settimana Internazionale Coppi e Bartali e Volta ao País Basco, para além de pódios na Clássica San Sebastian, Clássica de Plouay, Drome Classic e Druivenkoers-Overijse. O dinamarquês é um talento incrível, corredor muito completo que passa bem a média montanha, defende-se nos contra-relógios e tem uma ponta final bastante rápida, pelo que poderá ser muito importante para dar pontos à formação de Jonathan Vaughters. Poderá formar uma dupla perigosa com o seu compatriota Magnus Cort.
O final de temporada de Sjoerd Bax não passou despercebido a ninguém, 4º na Volta ao Luxemburgo e primeiras vitórias da carreira na Coppa Agostoni e Tour de Langkawi. Atenta ao mercado, a UAE Team Emirates viu no neerlandês uma excelente oportunidade de negócio. Com 26 anos, Bax é prova de quem nem sempre se chega ao World Tour em tenra idade e é preciso começar por mais, pois só este ano se tornou profissional com a Alpecin-Deceuninck. A partir do próximo ano será, maioritariamente, um ciclista de trabalho, deverá fazer parte do bloco de clássicas, podendo vir a ter algumas chances para brilhar nas provas de menor categoria. É uma contratação de baixo risco e, tendo em conta o potencial evidenciado neste final de época, Bax pode ser uma boa surpresa.
O ciclista eritreu está a tornar-se cada vez mais uma presença assídua no pelotão World Tour e, o próximo a dar o salto para a divisão máxima do ciclismo é Natnael Tesfatsion. O jovem africano vai reforçar a Trek-Segafredo, equipa que já conta com o também eritreu Amanuel Ghebreigzabhier nas suas fileiras. Desde muito novo que Tesfatsion começou a dar nas vistas, ainda na equipa de desenvolvimento da Dimension Data foi 2º na Tropicale Amissa Bongo e venceu o Tour du Rwanda. Estes resultados chamaram à atenção de Gianni Savio que o levou para a Androni. Já com dois Giros nas pernas, o ciclista de 23 anos teve um primeiro ano de adaptação a uma nova realidade, sendo que este ano já atingiu outro patamar, vencendo, novamente, o Tour du Rwanda e fazendo 2º no Giro dell’Appennino e na geral da Adriatica Ionica Race (onde venceu uma chegada em alto), 4º no GP Industria e 9º na Settimana Internazionale Coppi e Bartali. Tesfatsion começou a dar nas vistas como um bom sprinter mas está a tornar-se um corredor cada vez mais completo, conseguindo passar muito bem a montanha (seja ela média ou alta). Ainda em evolução, terá que se encontrar como ciclista, no entanto se for bem trabalhado pela Trek-Segafredo está aqui um caso sério.