Depois do Angliru a montanha continua bem presente na Vuelta, com uma chegada a Farrapona num dia que promete ser curto e explosivo.
Percurso
Depois de uma maratona com um final a lembrar o Inferno no Angliru desta vez temos uma curta metragem, também em modo de final em alto. Tal como hoje os primeiros 90 quilómetros são acessíveis, ainda que amanhã tenham mais algumas colinas, o que é uma vantagem para os trepadores. É nesse momento que o terreno endurece, na altura do sprint intermédio, e começa com uma primeira categoria bem dura, com 9900 metros a 8,6%, uma subida em que os primeiros 5 quilómetros andam entre os 6% e os 8% e a partir daí nunca desce dos 10%.
Segue-se uma descida de 10 quilómetros, um falso plano de 7 quilómetros e a entrada oficial na subida, que tem 16800 metros a 6%, algo fácil, certo? Nem pensar, os últimos 7 quilómetros têm 8,5%, os últimos 1800 metros são a 9,3% e podem fazer-se grandes diferenças aí.
Tácticas
Segundo dia seguido bastante duro e a geral mudou em vários aspectos. Diria que uma jornada destas, com uma quilometragem pequena, relativamente fácil de controlar, pode ser outra oportunidade para os homens da geral lutarem pelo triunfo na etapa. Principalmente se pensarmos que a fuga não se forma logo no tiro de partida, se demorar 30 kms aí já só faltam cerca de 100 kms. Haverá alguém disposto a atacar de longe? Do top 15 só estou a ver 2 ciclistas possivelmente, o primeiro é Egan Bernal, o colombiano não tem medo e ser 12º ou 8º é indiferente para o colombiano, estará mais apto para brilhar amanhã do que no Angliru. O 2º ciclista é Kuss/Jorgenson, é preciso recordar que a Visma ainda tem 2 ciclistas relativamente próximos na geral e se detectar fragilidades na UAE pode tentar isolar João Almeida, visto que Vine e Grossschartner foram ao limite hoje e Ayuso não parece muito apto para ajudar.
O Angliru deu outra confiança à UAE, foi um dia muito importante para ganhar moral e ver que não é impossível bater Vingegaard e destruir o pelotão com o bloco que têm. Também acho que a subida final de amanhã se adapta melhor a João Almeida do que o Angliru, terá de se fazer valer da sua consistência e capacidade de recuperação, gostaria de mais quilómetros para acumular mais desgaste e anular alguma da capacidade de explosão de Vingegaard. A fuga tem hipóteses de resultar, mas precisa de chegar com uma vantagem muito grande à penúltima subida, diria que a rondar os 5 minutos, e isso não vai ser fácil.
Favoritos
João Almeida – Que exibição histórica e memorável do português, a sua equipa assumiu a corrida e o líder não desapontou, pegou na Vuelta pelos cornos e mostrou que tem hipóteses de vencer a classificação geral, estará certamente muito motivado daqui para a frente com este resultado, pode ter sido um clique importante na parte psicológica, amanhã terá outra subida longa onde é muito importante gerir forças.
Jonas Vingegaard – Chegou visivelmente cansado depois de resistir ao ritmo demolidor de João Almeida, não conseguiu ultrapassar o português no último quilómetro, creio que amanhã pode tentar mostrar que é o patrão de Vuelta e se isso acontecer é moralmente um grande golpe para a UAE porque finalmente parece que a equipa viu que o seu líder pode ganhar a Vuelta.
Outsiders
Jai Hindley – Aquele que mais tempo conseguiu resistir hoje ao ritmo de João Almeida para além de Vingegaard, bem parecia que o australiano estava a encontrar a melhor forma e a melhorar de dia para dia. Não acredito que em condições normais consiga descolar os 2 primeiros da geral, mas pode aproveitar uma guerra e uma marcação entre ambos.
Javier Romo – Já teve tempo para recuperar fisicamente e mentalmente da desilusão sofrida no dia em que perdeu ao sprint para Juan Ayuso, sem Pablo Castrillo recai sobre ele a pressão para de certa forma salvar a Vuelta da Movistar em casa, tem de conseguir jogar de forma mais fria.
Juan Guillermo Martinez – O jovem colombiano pode ser uma revelação nesta Vuelta, hoje foi 15º sem grande necessidade, apenas para testar onde podia chegar e finalizou inclusivamente diante de Bernal e Jorgenson, o que é impressionante, veremos se aproveitar o bom momento amanhã.
Possíveis surpresas
Thomas Pidcock – Hoje demonstrou que as debilidades nas subidas mais longas conjugadas com dias mais duros e longos continuam, agora vamos ver se consegue recuperar para amanhã, é que vai ter novamente esforços longos pela frente, tem de gerir bem as forças.
Felix Gall – Não estava à espera que se defendesse tão bem nas rampas duras do Angliru com a sua peculiar forma de pedalar, está à espera de um possível dia mau de Hindley para atacar o pódio, creio que etapas como a de amanhã podem servir para isso.
Giulio Pellizzari – Demonstrou muita maturidade hoje no Angliru depois de ter perdido o contacto com o grupo dos favoritos relativamente cedo, depois foi recuperando tempo e posições para minimizar perdas. Não acredito que ataque de longe porque tem a classificação da juventude em mente.
Sepp Kuss – Que bom foi ver o norte-americano novamente perto do seu melhor nível e quando isso acontece é alguém capaz de voar montanhas acima com o seu estilo inconfundível, estando relativamente perto pode não ter liberdade para se escapar, mas numa marcação entre João Almeida e Vingegaard pode lucrar.
Matthew Riccitello – O pequeno norte-americano continua a impressionar e hoje claramente consolidou a opção de top 10, aproximando-se do top 5, com as debilidades que tem a descer irá sempre tentar aproveitar as chegadas em alto.
Egan Bernal – Alguém que não tem medo de atacar de longe e que hoje perdeu muito tempo numa exibição desapontante. Normalmente quando isto acontece ele reage com alguma raiva no dia seguinte e pode aproveitar alguma hesitação dos grandes candidatos.
Victor Langellotti – Entrou na Vuelta em grande forma, mas ainda não encontrou o seu espaço e a sua etapa, hoje a Ineos esteve em grande destaque com Bob Jungels, amanhã pode ser o dia do monegasco.
Lorenzo Fortunato – Já foi 3º em Andorra, é alguém muito experiente nestes contextos e que já ganhou etapas em Grandes Voltas, vem do Giro onde triunfou na classificação da montanha.
Santiago Buitrago – Bastante activo nos últimos dias depois de um início de Vuelta bastante desapontante tem qualidade suficiente para vencer 1 etapa, resta saber se já está mais perto da melhor forma.
Rudy Molard – Tem estado ausente das fugas, mas ocasionalmente termina em bons lugares nas etapas de montanha sem motivo aparente visto que não está a lutar pela geral, isso indica vontade de se testar e boa condição física.
Super-Jokers
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