Antes do Tour de Flandres, os ciclistas têm um último teste para fazerem as derradeiras afinações do motor. Teremos Mads Pedersen a somar mais um grande triunfo antes de novo Monumento?
Percurso
Este será o último teste para alguns ciclistas antes do Tour des Flandres naquela que é uma das clássicas belgas mais curtas, com apenas 184 quilómetros. Ao todo serão 10 subidas e 11 troços de empedrado, sendo que 3 colinas preenchem os 2 requisitos.
As dificuldades começam passado 69 kms o Volkegemberg (1000 metros a 4,5%), uma subida feita em empedrado. O Berg ten Houte (1000 metros a 5,7%) também apresenta empedrado, sendo que nesta primeira fase de corrida ainda surgem o Knokteberg (1100 metros a 7,6%), Hotond (800 metros a 5,2%) e um troço de empedrado de 2500 metros (Mariaborrestraat).
Esta sequência de 3 subidas e troço de empedrado volta a ser repetida logo de seguida e deixa os ciclistas a 45 quilómetros do fim e antes do Eikenberg (1200 metros a 5%). Restam apenas 4 setores de pavê e duas subidas onde podem ser feitas as diferenças. Nokereberg (400 metros a 3,6%) e Nokere (800 metros a 4%) serão as dificuldades finais, a última delas colocada a 10quilómetros do fim.
Tácticas
Esta é uma corrida interessante e curiosa, um bocadinho como a Nokere Koerse, poucos dias antes de um Monumento e que debilitou Jasper Philipsen antes da Milano-Sanremo. A lista de participantes da Dwars door Vlaanderen este ano é bastante interessante e creio que assim é porque existe aquela sensação no ar de que no Tour de Flandres apenas está em jogo o 3º lugar atrás de Pogacar e Mathieu van der Poel. Sendo assim há que procurar outros caminhos e outros sucessos, mesmo que isso implique um risco maior de eventualmente falhar um grande objectivo de temporada por um azar ou uma queda.
Para além disso ainda existe o facto da Visma estar a ter uma temporada de clássicas muito fraquinha e de Mads Pedersen ter ficado doente antes da Milano-Sanremo e querer mais ritmo competitivo. Nos últimos anos, a prova tem-se resolvido num ataque a solo ou num sprint em grupo reduzido, nunca se juntou para um sprint massivo de 30/40 ciclistas, apesar de este ano haver alguns interessados nisso.
Favoritos
Mads Pedersen – Depois do que fez na Gent-Wevelgem e do que o vimos fazer previamente na temporada claro que Mads Pedersen tem de estar nesta categoria, não esquecer que na E3 Saxo foi o que mais perto esteve de seguir Mathieu van der Poel. Parece estar um nível acima da concorrência que está aqui neste momento e claramente a presença de Jonathan Milan o deixa correr com outra liberdade e como ele gosta, a impor o seu ritmo e a endurecer a corrida. A Lidl-Trek vem com uma equipa muito forte, pronta para acelerar quando for necessário.
Jhonatan Narvaez – Uma aposta de alto risco, mas creio que o equatoriano, que já brilhou em 2025 no Tour Down Under, pode estar à altura do acontecimento. Tem aqui a oportunidade de brilhar sem a presença de Tadej Pogacar, foi ele que preparou o ataque do esloveno da Milano-Sanremo. Narvaez é muito explosivo e em grupo reduzidos tem uma excelente ponta final, pode surpreender num sprint.
Outsiders
Matteo Jorgenson – Campeão em título desta corrida, fez uma prova impressionante em 2024, na altura estava em grande forma. Continua a ser um perigo, um ciclista consistente capaz de fazer bons resultados e andar entre os melhores nas clássicas como se viu na E3, mas claramente a debilidade colectiva da Visma e o facto de também estar a preparar a sua presença em Grandes Voltas lhe tirou alguma explosão e pujança neste tipo de corridas. Precisa de jogar bem tacticamente.
Mike Teunissen – Outra aposta mais arrojada, foi 11º na Milano-SanRemo, 10º na E3 e 16º na Gent-Wevelgem, está a viver um bom momento de forma e sempre achei que era um corredor perigoso nestas corridas, com mais liberdade agora na Astana. Tem um registo impressionante na Dwars door Vlaanderen, 5 top 20, sendo que foi 9º em 2016 e 2º em 2018.
Jasper Philipsen – Tentou seguir Pedersen na Gent-Wevelgem, mas o dinamarquês estava intratável e o belga acabou por furar num momento importante. Desta vez a táctica pode ser confiar na equipa para o ajudar a fechar espaços, tem Del Grosso, Rickaert, Bayer e Meurisse, não é um mau conjunto. Philipsen não está aqui a preparar o Tour de Flandres, dá-lhe mais espaço para arriscar também.
Possíveis surpresas
Jonathan Milan – Continua num grande momento o monstro dos sprints da Lidl-Trek, 2º em Brugge, 3º na Gent-Wevelgem. Será a carta a jogar pela equipa norte-americana caso a corrida se junte na parte final e haja um sprint com alguns ciclistas.
Tim Merlier – A Soudal vai ser das equipas que tudo vai fazer para que haja um sprint, basta ver que na teoria nenhum dos seus ciclistas tem capacidade para seguir os ataques de Pedersen, Jorgenson e companhia e que tem um dos melhores sprinters em prova, portanto creio que Casper Pedersen, Eenkhoorn, Lampaert e Magnier se devem apenas guardar para acompanhar o campeão da Europa.
Biniam Girmay – Não é descabido ver o eritreu num grupo de 8/9 ciclistas que se destaque, ele normalmente passa muito bem este tipo de subidas, o problema é que nesse caso deverá estar sozinho e ninguém o vai querer levar para o risco de meta. Não estou a ver muito cenários em que vença.
Wout van Aert – Há que dizer, parece completamente fora dela, mas é um grande ciclista e pode recuperar as sensações aos poucos, conforme ganha ritmo competitivo. Tem de conseguir também colocar-se melhor nos momentos decisivos.
Tim Wellens – Ciclista muito ofensivo que certamente vai estar na maioria dos ataques que haja na fase decisiva da corrida. 3º na Strade Bianche, 8º na E3, creio que o pódio será possível aqui.
Jasper Stuyven – Vamos imaginar que depois das principais subidas fica um grupo de 10 elementos na frente em que a Lidl-Trek tem superioridade numérica, o que é bem possível, aí podem começar a jogar a cartada Stuyven também para conservar um bocadinho mais a condição física de Pedersen.
Tiesj Benoot – Tenho de o mencionar pelo histórico que tem nesta corrida, 6º em 2015, 7º em 2017 e 2018, 5º em 2019, 2º em 2022 e 4º em 2024. É dos corredores que mais gosta deste traçado e que quase sempre está num grupo restrito que ganha vantagem, mas que nunca ganha nessas circunstâncias.
Stefan Kung – A Groupama-FDJ tem sido bastante realista e tem tentado antecipar os movimentos dos grandes candidatos com ataques ainda mais cedo para tentar sobreviver depois aos momentos de loucura, numa prova destas isso pode resultar bem.
Magnus Sheffield – Diria que a Ineos até tem superado ligeiramente as expectativas face ao que vinham a fazer, a equipa sabe o que está a fazer e não está a andar mal. Sheffield é um talento enorme que já tem alguma experiência nestas corridas, vem de um enorme Paris-Nice e de uma boa Settimana Coppi e Bartali e fez 6º no Tour de Flandres no ano passado. Considero-o um grande perigo para esta prova.
Laurence Pithie – Em bom plano na Groupama-FDJ, parecia que se poderia tornar um excelente ciclista de clássicas, foi contratado com esse intuito pela Red Bull-Bora, mas até agora as coisas não resultaram da maneira esperada, veremos se dá a volta aqui.
Alexander Kristoff/Oliver Naesen – 2 apostas sólidas para top 10, nada mais.
Nils Eekhoff/Madis Mihkels – Daqueles nomes que podem ser a grande surpresa da prova, Eekhoff numa perspectiva de ter obtido recentemente a melhor vitória da carreira num final duro, Mihkels caso haja um sprint em grupo reduzido pode fazer pódio.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são Paul Magnier e Jordi Meeus.