A Volta a Suíça é das corridas com mais montanha no calendário internacional, um verdadeiro pesadelo para os sprinters e este ano com o atractivo de termos vários portugueses à partida, nomeadamente João Almeida, um dos favoritos à vitória final.

Percurso

Etapa 1

Estamos na Volta a Suíça e raramente há etapas planas, mas começar a prova com uma jornada destas é outro nível, é preciso começar a competição bastante atento. 3900 metros a 9% já dentro dos 15 kms finais pode causar muitas surpresas, a entrada é demolidora, são 2 kms a 9,4% e caso se forme um grupo reduzido pode haver ciclistas a escapar-se na descida até à meta.

 

Etapa 2

Em vez de uma subida inclinada temos uma carrossel de pequenas colinas que mesmo assim totalizam cerca de 2500 metros de acumulado, ainda por cima quase todos concentrados na última metade da jornada. Tudo pode começar a aquecer nos 1500 metros a 6,1% que antecede a última dificuldade, apesar de não ser categorizada totaliza 4900 metros a 3,3%, não vai ser nada fácil de controlar. A organização não espera um pelotão completo até porque os 500 metros finais são em descida, feitos a toda a velocidade, com a potência que ainda haja.

 

Etapa 3

Finalmente uma tirada fácil? Não, nem por isso, aliás, com 3000 metros de acumulado é impossível vermos qualquer homem rápido disputar este final. Isto porque há 3 colinas relativamente complicadas nos 25 kms finais, primeiro 5,2 kms a 6,2%, depois 2 kms a 6,9% e por fim a coincidir com o final 3400 metros a 5,3%.

 

Etapa 4

Primeira passagem acima dos 2000 metros num dia que promete ser atacado, depois de 110 kms planos o terreno começa a empinar progressivamente, são quase 30 kms de falso plano até à contagem de montanha em si cujo alto está nos 2110 metros. Vai ser um grande teste à condição física, até porque são 8800 metros a 7,3%, a subida tem um miolo acessível, mas conta com 2 quilómetros acima dos 9% de média. O alto está ainda a quase 50 kms da meta, há uma longa descida e depois um final em falso plano, pode eventualmente haver alguma espécie de reagrupamento.




Etapa 5

Parece que a dificuldade vai aumentando, desta vez quase 4000 metros de acumulado e caso ainda haja ciclistas tacticamente próximos na geral podem ser usados aqui. Mais 2 passagens acima dos 2000 metros de altitude, primeiro com o JulierPass (7,3 kms a 6,5%) e depois com o Passo del Bernardino, oficialmente com 7,5 kms a 6%, mas na verdade os ciclistas sobem quase ininterruptamente por quase 40 kms. Nova descida bem longa que vai levar os corredores ao quilómetro de ouro e a dupla passagem pela subida de Castaneda, uma grande dureza com 4,5 kms a 9,8%, em que os últimos 2,5 kms têm 11,6%. Na última passagem por Castaneda, os ciclistas continuam a subir até à meta, são mais 1,8 kms a 9%.

 

Etapa 6

O que os sprinters têm de aguentar para terem finalmente um vislumbre de uma oportunidade, digo isto porque mesmo assim têm de passar 2 contagens de montanha bem duras, com 9 kms a 6,8% e 6,2 kms a 5,7%, tudo isto na primeira metade da jornada. A parte final tem algumas pequenas colinas, nada de especial a assinalar, a recta da meta tem 700 metros.

 

Etapa 7

Regressa a montanha com um final parecido ao da etapa 5, 2 subidas relativamente curtas e inclinadas no último terço que prometem castigar quem esteja num dia mau. Um dia bem complicado com 207 kms e que já dentro dos 20 kms finais tem 5,5 kms a 7,9%, com 1000 metros a 10,3% quase de entrada. A meta está localizada no topo de uma subida com 3900 metros a 8,1%, o segundo quilómetro é o mais complicado, acima dos 11% e é aí que mais diferenças se devem fazer.

 

Etapa 8

A Volta a Suíça 2025 termina com uma crono escalada para separar o trigo do joio, a subida no seu todo são 9,2 kms a 9%. Basicamente é a subida que os ciclistas fizeram no dia anterior até à meta e depois mais 5,3 kms a 9,8%, com rampas acima dos 12%.

Tácticas

Aqui creio que não há muito que enganar nem que conjecturar. É verdade que por vezes sem Tadej Pogacar a UAE tem parecido um pouco perdida na forma de correr, mas aqui tem o maior candidato à vitória e uma equipa que me parece capaz de controlar a maioria das etapas apesar de algumas fragilidade na alta montanha quando a corrida for para altitude. Isto porque tirando Grossschartner nem António Morgado nem Jan Christen são puros trepadores. A questão é que talvez tirando a Ineos se todos estiverem em grande e a Israel dependendo da forma em que estão Bennett e Woods não vejo muitos blocos com capacidade de isolar a UAE e João Almeida. Ou seja, o mais provável é vermos uma UAE essencialmente pragmática e com capacidade de controlar a corrida para o ciclista português numa altura em que algumas equipas ainda estão a fazer contas para os pontos UCI e por isso podem não arriscar tudo de longe.

Favoritos

João Almeida – O ciclista português marca como grande favorito, talvez pela primeira vez na carreira, para uma corrida deste gabarito, beneficia de outro estatuto e terá outra responsabilidade depois de vencer a Volta ao País Basco e o Tour de Romandie, está a ser um ano inesquecível nas corridas de 1 semana. João Almeida é, de todos os presentes, aquele que mais ambições tem ao Tour, é verdade que não tem uma mega equipa para a montanha, mas mesmo assim será das melhores aqui na Suíça.




Felix Gall – Um corredor que adora subidas longas e duras, que se sente à vontade com altitude e que pode sentir que tem uma oportunidade de ouro visto que esta corrida não tem contra-relógio. O austríaco não começou propriamente bem o ano, recentemente já andou melhor no Tour os the Alps e está a preparar um pico de forma.

Outsiders

Ben O’Connor – O australiano tem de começar a justificar todo o investimento que foi feito nele e na sua contratação, está a ter uma época para esquecer, sem qualquer top 5 em corridas individuais. Para ter hipóteses de lutar com João Almeida precisa de estar na condição física da Vuelta 2024.

Aleksandr Vlasov – Boa chance para liderar uma equipa como a Red Bull-bora, o russo não tem tido muitas chances e a época não lhe tem corrido de feição, vários problemas pessoais, mas é preciso não esquecer que no passado já ganhou o Tour de Romandie e 1 etapa aqui.

Oscar Onley – 5º no UAE Tour, 9º na Volta ao País Basco, o jovem britânico tem provado que é um ciclista bem perigoso, de lembrar que tem 22 anos e que esteve agora algumas semanas a preparar mais especificamente o Tour.

Possíveis surpresas

Ilan van Wilder – Quase sempre que esperamos uma grande exibição de Ilan van Wilder saímos um pouco desiludidos. Continua a ser um poço de regularidade, quando tem oportunidade para isso e um top 20 é perfeitamente possível, mas sem um contra-relógion individual plano o pódio será cokmplicado.

Kevin Vauquelin – Está cada vez mais a tentar imiscuir-se entre os melhores nestas corridas e com este alinhamento o objectivo é marcar muitos pontos UCI. Apesar de não ter uma equipa incrível com ele na montanha tem a equipa possível, não é horrível, e é um ciclista que nas chegadas mais explosivas pode ganhar tempo a alguns dos rivais.

Neilson Powless – Outrora focado em corridas de 1 semana o norte-americano, que vem de uma moralizadora vitória numa clássica suíça, está cheio de confiança e mantém alguma capacidade aparente de andar bem na alta montanha. Battistella e Rui Costa podem ser boas ajudas nas etapas decisivas.




Geraint Thomas – Nesta fase da carreira o foco do britânico já está nas principais corridas, a grande questão está na sua motivação para esta prova porque se estiver já em forma é um corredor perigoso nesta luta pela geral, creio que será uma das grandes incógnitas desta Volta a Suíça.

Laurens de Plus – Dos ciclistas da Ineos-Grenadiers é aquele mais consistente e que em 2025 melhores resultados tem obtido, isto do 7 escolhido pela equipa britânica para aqui, claro está. Foi 3º na Volta ao Algarve e 6º na Volta a Catalunha, não acho que o pódio seja impossível.

Matthew Riccitello – O facto de haver cronoescalada em vez de um contra-relógio individual beneficia imenso o norte-americano, que é um peso pluma e um puro trepador, a Israel tem trabalhado bastante nesta vertente, veja-se o desempenho de Derek Gee no Giro.

Tao Hart – Antigo vencedor de Grande Volta, estamos sempre à espera que regresse a um nível que pelo menos se aproxime desse Giro. A espaços tem tido laivos disso, no entanto entre quedas e problemas físicos, e não obstante a confiança que a Lidl-Trek tem depositado nele, tem estado abaixo das expectativas.

Tiesj Benoot – Já deve estar em boa forma para atacar o Tour e não o vejo a trabalhar propriamente para os jovens aqui presentes, é mais perigoso nas chegadas explosivas do que nas subidas longas, é muito consistente e uma boa opção para o top 10, é raro ter uma oportunidade destas para liderar.

Jan Christen – O suíço não é um puro trepador, mas já mostrou por exemplo na Volta ao Algarve que consegue subir bastante bem, até diria que nas subidas curtas pode estar ao nível de João Almeida. A equipa pode não o querer sacrificar caso aconteça algo ao português.

Joseph Blackmore – Vencedor da Volta a França do Futuro de 2024 fez uma excelente campanha de clássicas, é um ciclista cada vez mais completo e parece estar a ter uma evolução muito agradável e progressiva, estou curioso para ver a que nível se apresenta aqui.

Super-Jokers

Os nossos super-Jokers são: Romain Gregoire e Clement Champoussin

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