Depois das contratações de Barry Miller e Francisco Moreira e das renovações de Francisco Pereira e Ivo Pinheiro, a ABTF Betão-Feirense guardou um grande trunfo na manga e decidiu dinamitar o mercado nacional com o anúncio de 2 ciclistas que ambicionam disputar os primeiros lugares das principais corridas nacionais, nomeadamente a Volta a Portugal. Falamos de Amaro Antunes e António Carvalho.

É uma grande novidade e é uma mudança de paradigma face aos últimos 2 anos, em que os comandados de Joaquim Andrade nunca tinham tido uma liderança bipartida, em 2021 o chefe de fila era Vicente Garcia de Mateos e este ano a aposta recaiu em André Cardoso. Curiosamente os rumores apontavam para que tanto Amaro Antunes como António Carvalho assinassem pela W52-FC Porto, algo que não se veio a verificar e este anúncio aconteceu dias depois de Adriano Quintanilha comunicar à Federação Portuguesa de Ciclismo que abdicava do pedido de licença para 2023. Este processo estava envolvido em polémica com a Operação “Prova Limpa”, que levou à suspensão da maioria dos ciclistas do plantel por posse de substâncias proibidas.




Voltando ao que mais importa, estas 2 contratações têm tudo para ter um grande impacto a nível nacional, para todos os efeitos Amaro Antunes tem no seu currículo a conquista de 3 Voltas a Portugal, em 2017 (após a anulação de vitória de Raul Alarcon), 2020 (diante do seu colega Gustavo Veloso) e 2021 (num final dramático contra Mauricio Moreira) e se tudo correr como em anos anteriores partirá como um dos maiores candidatos em 2023. É um trepador puro, que se defende como pode nos contra-relógios, teve uma experiência internacional na CCC em 2018 e 2019 onde teve a oportunidade de correr o Giro, tendo sido 3º numa etapa já na 3ª semana.

No seu currículo também conta com o Troféu Joaquim Agostinho e 1 etapa na Volta ao Algarve, um triunfo épico no alto do Malhão, ambos em 2017. Essa foi, indubitavelmente, a melhor temporada da carreira, aquela que lhe permitiu dar o salto posteriormente para o World Tour. Para além dos resultados citados andou com os melhores na montanha da Volta à Comunidade Valenciana, ganhou a Clássica da Arrábida e foi 8º no G.P. Beiras e Serra da Estrela. Em 2022 pouco competiu, mas certamente que a estrutura de Santa Maria da Feira vê em Amaro Antunes com claro líder para a próxima época.

António Carvalho prepara-se para uma nova aventura na carreira, um capítulo também emocional, pois vai representar a equipa em que o seu tio, Fernando Carvalho, conquistou a Volta a Portugal. Aos 33 anos, é um dos corredores que começa sempre lentamente os anos competitivos e que é sempre um perigo a partir de Maio. Concluiu a última Volta a Portugal em 3º, mas também já foi 4º em 2019, 6º em 2015, 2017 e 2020 e 8º em 2021, o que diz bem da sua consistência na prova que internamente é a mais importante para as equipas portuguesas.




Sempre deu provas do seu talento nas camadas jovens e evidenciou-se mais na alta montanha desde que entrou na W52-FC Porto, já protagonizou grandes ataques de longe e é muito irreverente, pagando por vezes factura por isso mesmo. Sempre esteve, desde 2015, em estruturas relativamente dominadoras (W52-FC Porto entre 2015 e 2019, Efapel/Glassdrive entre 2020 e 2022), com todas as vantagens e desvantagens pessoais que isso acarreta, nunca entrou como líder claro, entrou sempre com o estatuto de potencial candidato. É alguém que também sprinta bem em grupos reduzidos, como sub-23 era inclusivamente um dos melhores sprinters do pelotão nacional.

Estas movimentações são, sem sombra de dúvida, importantíssimas no panorama nacional. A ABTF Betão – Feirense incorpora na sua estrutura o vencedor de 3 Voltas a Portugal e alguém que já fez top 10 por 6 vezes e, mais importante do que isso, foi peça fundamental para algumas vitórias dos seus colegas. Tem tudo para entrar em 2023 com outra responsabilidade e resta saber se a Glassdrive/Q8/Anicolor vai conseguir substituir alguém como António Carvalho, alguém tão presente e tão activo no seu comboio de montanha.

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