Está aí o primeiro Monumento da temporada! “La Primavera” marca o início de uma das fases mais preenchidas da temporada, onde se espera muita emoção e espetáculo. Conseguirá Tadej Pogacar finalmente vencer a competição?
Percurso
Com praticamente 290 quilómetros, a Milano-Sanremo é a prova mais longa da temporada velocipédica. O percurso é praticamente o mesmo de sempre, e como é habitual, a primeira dificuldade é o Passo del Turchino (2,4 kms a 5,8%). É a partir dos 230 kms que as coisas complicam, com a entrada nos Capos. Ao quilómetro 230 o Capo Mele (2 kms a 3,7%), ao quilómetro 242,4 o Capo Cervo (1,5 kms a 2,4%) e o mais complicado surge ao km 255, o Capo Berta tem 1500 metros a 6,7% de inclinação média.
Depois vem outra fase da corrida. A entrada na Cipressa, que é praticamente a derradeira oportunidade de deixar sprinters para trás, principalmente devido ao comprimento da subida, com 5500 metros, já que a inclinação média é somente de 4,1%. Por fim, temos o Poggio, 3600 metros a 3,7% a apenas a 5,5 quilómetro da meta. parece fácil mas depois de 280 kms qualquer inclinação na estrada custa. Segue-se uma descida rápida e técnica, onde também se podem fazer diferença, antes da sempre dramática reta final na Via Roma.
Táticas
Estamos todos à espera do que a UAE Team Emirates vai fazer e tem planeado para esta corrida, no passado fui crítico com o alinhamento da equipa. Este ano creio que é mais adequado à corrida que é, no entanto continua a faltar mais 1 ciclista de montanha/clássicas e creio que há 1 rolador a mais, falta um Mikkel Bjerg ou um António Morgado aqui, mas a equipa lá terá um plano. Seria tudo diferente caso pudessem trazer 8 ciclistas como nas Grandes Voltas, com 7 corredores fica sempre curto em algum lado.
Na minha opinião, a UAE devia tentar tudo na Cipressa, rebentar completamente com a corrida e Pogacar atacar mesmo aí, a distância até à meta não é assim tão grande e é preciso ter em conta que a única perseguição organizada que pode haver é entre a Cipressa e o Poggio. Se a UAE força o ritmo e Pogacar não atacar na Cipressa deixa o esloveno quase sem colegas para fazer o Poggio a full gas e aí a vantagem é de Mathieu van der Poel, se a UAE espera até ao Poggio pode acontecer como no ano passado, portanto há que tentar algo diferente na subida dos últimos 50 kms que tem maior dureza.
Há algo que pode ter dado mais confiança na última semana aos comandados de “Matxin”, foi a queda de Jasper Philipsen, vencedor de 2024, na Nokere Koerse. O belga estará na linha de partida, no entanto certamente duro e algo afectado, teve de levar pontos na mão. A estratégia da Alpecin seria sempre um Mathieu van der Poel colado à roda de Pogacar, com a desculpa de haver Philipsen para o sprint, se Philipsen não estiver bem talvez o holandês até pense em colaborar. Quem pode aproveitar esta marcação directa é Filippo Ganna, que se apresentou a grande nível no Tirreno-Adriatico.
Favoritos
Tadej Pogacar – O esloveno quer mesmo riscar este objectivo da sua lista de corridas a ganhar, a Milano-SanRemo, a par do Paris-Roubaix vai ser o osso mais duro de roer no que toca aos Monumentos. Pogacar está muito apostado nas clássicas este ano, com a confiança que mantém mesmo assim o nível para ganhar o Tour. Como disse em cima considero muito complicado fazer-se diferenças definitivas no Poggio, o ciclista da UAE tem de arriscar, e acho que o vai fazer porque ele tem um gostinho especial em vitórias épicas.
Filippo Ganna – Fiquei tremendamente impressionado com o que fez no Tirreno-Adriatico, em 2025 abdicou da pista e com isso concentrou-se mais na estrada com resultados à vista, grande contra-relógio, enorme resultado na classificação geral, e tem esta corrida no seu pensamento. Numa possível guerra a 3 é aquele que mais facilmente se pode escapar porque entre Pogacar e Mathieu van der Poel há uma rivalidade muito grande e se ganhar uns metros já ninguém o apanha.
Outsiders
Mathieu van der Poel – O homem das grandes ocasiões, dos Monumentos, parece pronto para mais um, a Milano-Sanremo que já conquistou em 2023. Se os rivais esperam pelos últimos 500 metros do Poggio estão tramados, o arranque e a explosão do neerlandês naquelas rampas é inigualável e basta lançar-se descida abaixo com um par de segundos. Veremos como joga este ano a cartada Philipsen.
Michael Matthews – Ele adora esta corrida, estamos a falar de alguém que foi 3º em 2020, 6º em 2021, 4º em 2022, 2º em 2024. Esta “nova” Milano-SanRemo que chega com grupos muito reduzidos acaba por o beneficiar bastante porque ele não é o melhor sprinter, mas passa muito bem estas subidas, especialmente depois de um dia bem duro. É um grande amigo de Tadej Pogacar, conhecerá o esloveno melhor que ninguém e as suas intenções.
Mads Pedersen – Finalmente o dinamarquês vem aqui com uma preparação específica e reais objectivos, há muito tempo que achava que isto devia acontecer pelo seu perfil e viu-se no Paris-Nice que está a subir melhor do que nunca, por alguma razão é, precisa para aguentar o ataque de Pogacar e seguir com os melhores. Nota-se que talvez tenha perdido alguma explosão, algo que no final de quase 300 kms é minimizado, continua a ter um sprint fortíssimo nessas circunstâncias.
Possíveis surpresas
Jasper Philipsen – Para mim será uma surpresa ver o belga ganhar novamente tendo em conta que espero uma corrida atacada como nunca na Cipressa e que sofreu uma queda ainda aparatosa esta semana, a este nível de competição tudo conta.
Thomas Pidcock – Muito cuidado com o britânico por várias motivos, primeiro está numa excelente momento de forma e com uma confiança contagiante, esta mudança fez-lhe muito bem e está mais solto. Está a mostrar que conhece bem os seus limites e é dos poucos que terá possibilidade de seguir com Pogacar, e se a corrida ficar para o Poggio é um dos ciclistas do pelotão que melhor desce.
Maxim van Gils – Teoricamente está em subida de forma com vista às clássicas na Ardenas, no entanto já mostrou um grande nível no final de Fevereiro, quando andou a batalhar com Sivakov e Wellens, é alguém que espero ver entre os 10 melhores desta corrida.
Magnus Cort – Grande início de temporada e tanto o norueguês como a Uno-X sabem muito bem o que estão a fazer. Caso a corrida se parta na Cipressa têm equipa para juntar tropas, reunir em redor de Cort e guardar forças para o Poggio, tentando assim um pódio final. Têm Abrahamsen, Johannessen e Kron.
Alberto Bettiol – Sempre um perigo neste tipo de corridas, costuma mostrar a sua melhor versão nos Monumentos e ainda em 2024 fez top 10, esteve no grupo da frente. A Astana está a voar neste início de temporada, Bettiol tem tido alguns azares nas últimas corridas, veremos se a preparação de base está lá.
Ben Tulett – Deu muita luta a Isaac del Toro na Milano-Torino e já anteriormente noutras clássicas tinha mostrado muito bom nível, será claramente a aposta da Visma para uma corrida mais selectiva, como eu creio que será.
Neilson Powless – O norte-americano terá a protecção de toda a EF nesta corrida, não vejo melhor alternativa neste alinhamento, e é alguém que conhece bem os seus limites, gosta de corridas longas e costuma dar-se bem nas clássicas. Gostei de o ver até agora este ano.
Jonathan Milan – Em grande forma, neste momento a par de Tim Merlier talvez o melhor sprinter do Mundo, mas não creio que sobreviva a um ritmo infernal. Não o vejo a estar num grupo de 15/20 ciclistas, por isso mesmo veio Mads Pedersen.
Julian Alaphilippe – Um antigo vencedor desta corrida, que tem mostrado alguns sinais de melhoria ao longo da época, mas creio que ainda está longe do nível necessário para seguir os melhores aqui.
Matej Mohoric – Outro antigo vencedor da Milano-SanRemo, só que Mohoric ainda mal se viu em 2025 e não parece ter a explosão necessária para seguir os melhores. Já todos sabem o que pode fazer na descida e não tem um grande sprint final.
Romain Gregoire – Um ciclista de clássicas, muito jovem, que vem aqui fazer a sua primeira experiência nesta corrida, no entanto creio tem as características certas para tem um bom desempenho. É muito perigoso em grupos reduzidos, com bons resultados nas Ardenas.
Alex Aranburu – A Cofidis precisa de pontos como de pão para a boca e o espanhol gosta de corridas deste género e tem mostrado laivos de boa condição física, um top 10 é claramente possível.
Olav Kooij – Começou a época doente e débil nas subidas, na última semana a condição física melhorou exponencialmente e diria que pode estar num grupo de 20/30 que chegue à meta.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são Laurence Pithie e Axel Laurance.