O pelotão do Tour de France chega aos Alpes para o momento de todas as decisões. Três míticas subidas no menu, com final no Col de la Loze. Teremos Tadej Pogacar a vencer numa subida onde já cedeu perante Jonas Vingegaard?
Percurso
A entrada do Tour pelos Alpes faz-se pela localidade de Vif. Início relativamente plano, com o sprint intermédio localizado ao km 24, e pouco depois início da primeira ascensão do dia, o Col du Glandon (21,7 kms a 5,1% uma subida que engana já que tem 2 fases de descanso pelo que podemos dividir em 5,8 kms a 8,2%, 6,6 kms a 8% e 2,6 kms a 7,3%). Rápida descida e começo de nova ascensão, desta vez o Col de la Madeleine (19,3 kms a 7,8%), esta uma subida muito mais regular.
Lá no alto, ficam a faltar 68 kms, 25 deles em descida, antes de um falso plano que leva até ao monstro final do dia. Falamos do Col de la Loze, a mais longa subida deste Tour! 26,5 kms a 6,4% até aos 2068 metros de altitude, uma subida sem rampas tão duras como as anteriores mas muito mais longa. A parte final é a mais dura, com partes a superar os 10% de inclinação.
Táticas
Chegou o momento da verdade! Grande etapa de montanha em perspetiva com várias lutas em simultâneo. Primeiro é um dia importante para a classificação da montanha e, segundo, é um dia importante para a Visma|Lease a Bike e Jonas Vingegaard. Será bastante provável ver a equipa neerlandesa colocar ciclistas na fuga para servirem de apoio quando Vingegaard atacar, tal como se viu na etapa de ontem no Mont Ventoux e, ainda para mais, desde o topo do Col de la Madeleine até ao início do Col de la Loze ainda distam muitos quilómetros.
Um ataque de Vingegaard no Col de la Madeleine não é de todo descabido, nem que seja para uma primeira seleção no grupo e testar mais seriamente Pogacar. Mas com a monstruosa subida final pela frente, acreditamos que será mais provável atacar, de forma mais séria, nos primeiros quilómetros do Col de la Loze. A UAE Team Emirates vai correr mais na defensiva, tal como tem feito nos últimos dias mas, se sentir a oportunidade também não a vai desperdiçar. Quando à fuga, não terá tarefa nada fácil com tantos interesses em jogo na classificação geral.
Favoritos
Esta é mais uma subida onde Tadej Pogacar tem contas a ajudar. O esloveno foi atacado por todos os lado pela Visma em 2023 e viria a ceder muito tempo, está na hora de corrigir a história. Por muito que diga que não é o caso, todos já conhecemos o espírito do campeão do Mundo. Sofreu mais que o habitual no Mont Ventoux mas continua a parecer em controlo. Sabe que só tem de seguir um ciclista.
Falamos de Jonas Vingegaard. Se há alguém que pode derrotar o esloveno é o ciclista da Visma, ele que parece estar cada vez melhor, depois do mau dia no Hautacam. É certo que ainda não fez descolar Pogacar mas não vai desistir e, amanhã, é um dia importante para jogar coletivamente, tem de esperar uma Visma em grande. Vingegaard já fez muito estragos a Pogacar nestas subidas, tem de se focar no mesmo.
Outsiders
Quem já se deu muito bem com esta subida foi Felix Gall. O austríaco não venceu no alto mas foi lá que se distanciou para a grande vitória da carreira. Já a quase 15 minutos da liderança, Gall pode arriscar na fuga do dia, jogando não só a vitória em etapa mas também tentar subir na geral. É nestes dias de alta montanha que costuma sobressair e realizar grandes exibições. É quase um dia de tudo ou nada.
Sergio Higuita é um nome muito alternativo mas se formos ver as etapas de montanha tem feito top-20 em praticamente todas mesmo sem arriscar. Está na hora de sair da zona de conforto e com um início mais montanhoso será mais fácil para o pequeno colombiano estar na fuga. Numa XDS Astana discreta, pode estar aqui a salvação do Tour.
A INEOS Grenadiers tem estado muito interventiva nas fugas, amanhã pode ser o dia de Carlos Rodriguez. O espanhol tem tentando mas ainda não teve resultados práticos. Está no top-10 mas ainda mais longe que Gall, pelo que mais liberdade terá. Esteve melhor no Mont Ventoux, costuma aparecer bem nas terceiras semanas, talvez seja um sinal que o melhor está para vir.
Possíveis surpresas
Florian Lipowitz – tem feito um Tour muito regular, está a guardar muito bem a juventude e o 3º lugar. Não precisa de entrar em loucuras, sabe que este já é um resultado muito bom.
Primoz Roglic – o esloveno não tem nada a perder e, apesar de poder ajudar Lipowitz também quer subir, pelo menos, 1 lugar. Estas grandes etapas de montanha nunca o favoreceram mas a experiência será importante.
Oscar Onley e Kevin Vauquelin – honestamente, achamos que ficam contentes com o lugar onde estão, se vier mais já será um acréscimo. Será dia de correr na defensiva.
Tobias Halland Johannessen – colapsou no final do Mont Ventoux mas está tudo bem. É um ciclista muito ofensivo, mas depois do que lhe aconteceu não o vemos a arriscar tanto, pelo menos até ver como o corpo reage.
Lenny Martinez – vai estar na fuga, tem de estar. É um dia muito importante para a montanha, 80 pontos em disputa, sabe que tem de passar na frente pelo menos as duas primeiras contagens. Pode é desgastar-se em demasia.
Thymen Arensman – também pode sonhar com a montanha mas já parece um pouco desgastado e estadno na luta por isso não terá energias suficientes para o final.
Jordan Jegat – a lutar com tudo pelo top 10 final. O combativo francês deverá tentar estar na fuga, algo que já o fez noutras etapas. A partir daí, também pode sonhar com a etapa, tem estado muito regular.
Santiago Buitrago – nota-se que o colombiano está em crescendo de forma e, se olharmos para o seu historial, é nas terceiras semanas que costuma aparecer e vencer nas Grandes Voltas. Muito cuidado, está habituado a estas altitudes.
Valentin Paret-Peintre – quem ganha no Mont Ventoux tem de ser considerado candidato. O pequeno francês é um enorme talento, vencer noutra subida mítica seria um sonho.
Enric Mas – o espanhol parecia encaminho para a vitória no Mont Ventoux mas explodiu nos quilómetros finais. Um corredor experiente tinha de saber gerir melhor o esforço, deve ter aprendido com o erro.
Einer Rubio – altitude e subidas longas são a praia do colombiano da Movistar. Já esteve em evidência em algumas fugas, amanhã tem uma oportunidade de ouro.
Michael Storer – o australiano vinha com o objetivo de vencer uma etapa e, depois de um início muito ativo tem estado mais discreto, quem sabe pensando nas etapas alpinas. É muito combativo, não terá medo de arriscar de longe.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Cristian Rodriguez e Ilan van Wilder.